20.2.21

Covid, amizades

Ao longo da minha vida tenho tido mais amigos de esquerda do que da direita liberal na qual me inscrevo. Há várias razões para isto: na Suíça, a minha ex-mulher trabalhava num meio que era maioritária - quase exclusivamente - de esquerda; os meus amigos da vela não punham, por assim dizer, as considerações políticas no centro das suas vidas. Eram - e alguns ainda são - navegadores conceituados, reconhecidos, cujo foco era a vela; e - sobretudo - o único desconhecido com quem entabulo facilmente uma conversa num bar (ou noutro lado qualquer) sou eu próprio. Todas estas razões têm excepções, claro, mas são isso mesmo - excepções ali postas pelo acaso para confirmar a regra. O Facebook veio alterar isto, mas não radicalmente. Acrescentou, por assim dizer, uma camada de novos amigos por cima da antiga, agora mais próximos ideologicamente.

Com a Covid acontece o mesmo: a maioria dos meus amigos é pró-Covid. Isso não me impede de continuar a estimá-los. A amizade é mais do que uma mera atracção pelos acidentes, pela superfície das pessoas que as ideias são. «Embora os meus olhos sejam, etc.» Já não tenho idade para discorrer muito sobre a amizade (nem paciência para o fazer sobre o amor). Limito-me a aceitar as pessoas como elas são, a pensar que tenho sorte com os meus amigos e a esperar que a Covid acabe depressa. Tudo o mais seria conversa para encher chouriços, coisa para a qual não tenho jeito nenhum (como se tem visto ao longo destes anos todos neste blogue...)

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