Os índios norte-americanos acreditavam que a chuva era uma consequência da boa vontade dos deuses para com eles e não de um conjunto de condições meteorológicas (tanto quanto sei, não de se terem portado mal ou bem, mas isso por agora é irrelevante). Os xamãs entretinham essa crença, apesar de saberem que haveria com certeza outros factores para além das vontades divinas - por isso, só organizavam danças da chuva quando sabiam que ela estava próxima. Essa crença manteve-se porque havia uma predisposição das populações para a manter. Não conheço nenhum relato de um índio que se tenha dedicado a explorar outras possíveis causalidades para a chuva (na verdade, conheço pouquíssimos relatos da vida quotidiana dos índios, mas isto não é um tratado de antropologia). Os xamãs não tinham razão nenhuma - incentivo nenhum, como se diz em economês hoje - para ensinar meteorologia aos membros da tribo. Porque o fariam? E se da chuva se passasse para a medicina, por exemplo? Que lhes aconteceria? No mínimo, perderiam uma série de privilégios e a posição social ascendente (um bem em si mesmo, independentemente das prebendas que lhe vêm adjuntas).
(Imagino a tristeza dos índios quando descobriram que tinham andado anos a dançar para nada... Não decobriram. Nessa altura tinham sido dizimados e havia outras coisas que os preocupavam mais.)
Hoje, os xamãs andam pelas televisões e pelos jornais, a demonstrar que McLuhan nem sempre está certo. O medium é diferente, mas a mensagem é a mesma: «tende medo, tende muito medo. Eu estou cá para vos guiar». (Ou: «Tende medo, tende muito medo e comprai jornais. Nós estamos cá para vos manter nas trevas e rentabilizar o vosso medo.)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.