31.1.21

Tanto, tudo

Estás tenso, impaciente, tens no ventre as pedras de basalto que há tanto tempo trazes contigo não sabes onde - nos bolsos, na mente, nos olhos. Felizmente, sabes que a tensão é superficial. Aprendeste há anos a distinguir profundidades, sabes de onde vêm as bombas que te rebentam nas mãos, mal tocas qualquer coisa. De quão fundo te chegam, onde explodem, onde te queimam, onde te esperam. Bombas de profundidade, minas que sobem em vez de descer e tu aprendeste a medir-lhes a força, a estimar-lhes  a violência. 

Aprendeste, sobretudo, a viver com elas. Transformaste-as numa dor que não dói porque só dói quando tu queres, quando tu a deixas doer. Uma dor que se magoa a si própria, que se faz sombra, explosão silenciosa, passo a passo como num filme mudo em câmara lenta.

Domaste as tuas minas, engoliste os teus calhaus, pregas rasteiras à tensão e à impaciência. Agora só te falta perceber porque te dói tanto, tudo.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.