Escrevendo-te escrevo-me, muito mais do que me descrevo, como se me emprestasses os olhos para ler o que acabei de te escrever. És a ponte entre o que sou e o que o tempo trará, a forma no forno das palavras, tempo feito corpo e alma. Lendo-te, leio de ti o que me mostras: o silêncio veste-te, as palavras despem-te. Ler-te, escrever-te são os dois lados dessa moeda a que chamamos vida, à falta de melhor. Escrever-te é como olhar para a nascente e para a foz. Quando te leio, vejo-te agora, resplandecente. Como se de palavras fizesses bolas de luz. Ler-te é bom, escrever-te é preciso. Ou será ao contrário? Que importa? És as duas faces das palavras, do vento. Da vida, à falta de melhor.
(Tal como a mão percorre a pele toca a alma.)
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.