Alguém gosta da gravidade? Ou a detesta? Talvez, não sei, mas a verdade é que não faz muito sentido. Não é como não gostar do vento, da chuva ou do Sol, para os quais há defesa. Para nos defendermos da gravidade teríamos de ir para o espaço ou alugar um daqueles aviões de treino dos astronautas. Não é muito "prático".
O que acontece entre todo o mundo e a gravidade é uma relação semelhante à que Portugal tem com a improvisação. Não se trata de gostarmos ou não. Trata-se simplesmente de não haver escolha. É assim e é tudo. Quem não gosta, emigra - para leste do Reno e do Ródano ou para oeste dos Açores. (Admitidamente, para leste dos Pirinéus já começa a haver algumas possibilidades de planificação. Não muitas, mas algumas.)
Portugal é feito de improvisação como o Universo é feito de gravidade. Não há nada a fazer. É como ser-se pontual: chegar a horas ou respeitar um programa em Portugal é como querer ler Hegel a uma classe de deficientes mentais surdos: é possível fazê-lo, mas a utilidade é escassa.
Mussolini vangloriava-se de ter posto os comboios italianos a chegar a horas; em Espanha, os comboios partiam a tal hora e chegavam quando chegavam; em Franca, a SNCF indemniza (ou pelo menos indemnizava) os passageiros quando havia atrasos superiores a quinze minutos. Em Portugal, a única linha de comboio que anda - ou andava - sempre à tabela é a linha do Estoril. As outras, nem Estaline seria suficiente para as pôr a respeitar horários (e não haveria dinheiro em toda a OCDE ou armamento na Europa para pagar indemnizações por atrasos.)
(Sempre me intrigou esta anomalia. Por que raio de diacho de mula a linha do Estoril anda a horas e as outras não? Suponho - mas é mera suposição - que seja uma forma de defesa da CP. "Os comboios da Linha andam a horas para vos demonstrar, a vós pobres e indefesos passageiros, que nós somos perfeitamente capazes de respeitar horários. Se isso não acontece nas outras linhas, não é por incapacidade nossa. É porque sim, como a gravidade.)
A razão pela qual nós fizemos os Descobrimentos é simples: para descobrir, é melhor ser capaz de improvisar do que de planear. E perdemos a supremacia quando começou a ser mais importante planear do que improvisar. Portgal nunca será um país rico pela razão simples e inexpugnável de que no mundo actual, o êxito de qualquer empreendimento depende mais da planificação do que da improvisação.
Como todas, esta regra tem excepções e a nossa capacidade de improvisação é por vezes bastante útil. Infelizmente, são poucas, essas vezes.
PS - talvez se pudesse fazer uma analogia com a esquerda e a direita (políticas): ambas são necessárias, mas não em doses iguais.
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