Não precisava de uma regra para saber o que devia fazer, como não precisava de uma régua para traçar direita uma linha, nem de um espaldar para lhe segurar as costas. Bastava-lhe o que via, ouvia e lia, o que sentia e o que pensava. Regras e réguas fazia-as ele, sempre fez. Quando falhavam, era ele quem falhava. Nunca marchou a toque de caixa tocada por outrém. Se enganou alguém foi porque se enganou primeiro. Nunca ganhou com os seus erros, antes pelo contrário: pagou-os muito mais caro do que eles custaram. Vivia numa ilha quase deserta e só atribuía importância àquele quase. Todos os dias se escrevia, pensando em Montaigne: "não fiz mais o meu livro do que o meu livro me fez." O meu livro fez-me, mais do que eu o fiz, repetia. O homem é o resultado da obra e não o contrário.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.