25.5.21

A visibilidade das coisas

As coisas são como são, não são como são,  são mas não se vêem, vêem-se mas não como são... As combinações são múltiplas, mas não é hora para discutirmos a visibilidade ou invisibilidade do ser ou não-ser das coisas. Temos que abordá-las como as pinças manejam as brasas no fogo: aceitar que as coisas são como são e não como queremos que sejam; e revoltar-nos por não serem como deviam ser. Devemos tornar visível o invisível, jogar às escondidas com a nossa inabilidade fatal, como lhe chamou o Arthur no inferno. Ou terá sido nas Iluminações? As coisas também são o que a memória faz delas, ou desfaz. Uma biblioteca é uma memória de papel, tinta e cola. Numa biblioteca, as coisas são como queremos que sejam. Basta escolher o livro certo.

Sólo una cosa no hay. Es el olvido.
Dios, que salva el metal, salva la escoria
y cifra en su profética memoria
las lunas que serán y las que han sido.
 
Ya todo está. Los miles de reflejos
que entre los dos crepúsculos del día
tu rostro fue dejando en los espejos
y los que irá dejando todavía.
 
Y todo es una parte del diverso
cristal de esa memoria, el universo;
no tienen fin sus arduos corredores
 
y las puertas se cierran a tu paso;
sólo del otro lado del ocaso
verás los Arquetipos y Esplendores.

O soneto chama-se Everness e é daquele senhor que percebia mais de bibliotecas com os olhos fechados do que o resto do mundo com eles abertos. Só os livros, a memória, as palavras podem resolver o dilema das coisas serem ou não serem como são ou não são. Deixemos a vontade fora do palco. Ela é o espectador que da plateia assobia ao actor ou ao músico que fez uma fífia. 

(Tu és o actor, o músico.)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.