Há muitos anos li um livro de Luís Sepúlveda. Pouco depois li outro. Do primeiro gostei bastante, o segundo achei uma xaropada intragável.
Retrospectivamente, apercebo-me de que o primeiro também era uma xaropada. Há um nome para isto: retroacção, feedback retroactivo, não é? Isto é, quando o presente ajuda a definir o passado e ilumina os nossos erros de julgamento? Claro que se pode pensar que a minha primeira apreciação era correcta e a segunda incorrecta, mas não acredito nessa hipótese.
Nada a ver com a força do negativo. Já me aconteceu o contrário, bastas vezes. O Dersu Ouzala, por exemplo. Saí da sala a pensar "Que merda de filme" e nas semanas seguintes não conseguia deixar de pensar nele, até chegar à conclusão de que era o que é: uma obra-prima.
Luís Sepúlveda não é nenhuma obra-prima. É um chato xaroposo vestido à moda. Enganadoramente, como todas as modas fazem. (É para isso que servem, de resto.)
Não sei porque penso nisto agora, mas deve ter alguma relação escondida com as caipirinhas do Papa Loka. Como se elas servissem para me rearreanjar o passado, em vez de me ajudar, simplesmente, a interpretar o presente.
Tendo em consideração que Luís Sepúlveda morreu de covid 19 (contraída em Portugal) digamos que ela agora já não é um chato xaroposo vestido à moda. Na hipótese de não ter sido cremado é, apenas, um cadáver putrefação coberto com uns farrapos roídos pelos vermes.
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