11.6.21

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 11-06-2021

Se bem me lembro, a Via Dolorosa tinha doze estações. Uso o pretérito imperfeito porque agora já só uso a expressão num sentido jocoso. A Via Dolorosa jocosa de Palma tem muito mais do que doze estações: Lo Divino, Antiquari, Mise en Place, La Cantina, Bodega Bellver, La Bodeguita del Centro, Gustar, Abracadabra, Quinta Puñeta, Mini-restaurante Casa Julio (sic), La Quadra del Maño, Makaria, Sete Machos, Bar Rita, Ca na Chinchilla, Viniloteca, Mercat de l'Olivar (só aqui há quatro ou cinco estações), Plaça D'en Coll, o Toni na praça de Sta. Eulália, onde agora como uma tortilha  e duas almôndegas (estas presente da casa)... a lista é interminável e bom praticante que sou vou percorrendo o caminho todo, cruz aos ombros e copo na mão. Ontem bebi metade do álcool que Palma tem disponível (sou um rapazinho sensato. Se não fosse teria esgotado os stocks) de modo hoje o percurso vai mais lento e mais frugal. Cada vez que me reencontro com Palma ela entra-me pela boca abaixo, pelos olhos acima, pelo espanto: chego aqui e é a primeira vez, cada vez. As mulheres continuam lindas e mascaradas mas as ruas têm hoje mais gente do que da última vez e menos do que da próxima, aposto. Palma vive e respira, apesar de estar ainda manietada. Já eu ando mais solto. O I. não tinha a Órbita pronta e a minha reacção foi je m'en fous, me dá igual, poco importa, who cares. Tê-la-ei amanhã, palavra mágica que acolhe a metade do mundo que já foi e a metade que está para ser. Tudo aconteceu amanhã, dia em que tudo vai acontecer.

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«Aluguei» uma BTwin ao I. (entre aspas porque se se atreve a cobrar-me seja o que for... eu pago, ponto. Sei que não vai cobrar-me nada), pedalo por essas ruas fora e sinto-me como se estivesse num tapete rolante daqueles dos ginásios: pedalo imóvel e a cidade desliza por baixo de mim, ela mexe-se, chama-me, acena-me e eu sentado imperialmente na minha burra vejo-a passar e páro em cada estação, na medida do possível. 

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Hoje varei o P. Vi-o claramente a fazer cabriolas de alegria - também ele sente o fim próximo, já estamos na última linha do último parágrafo e qualquer dia viramos a página. Ó tempo abensonhado, como lhe chamou o Mia Couto, se não me engano. Abensonhado, tanto que eu sonhei com ele a bem, tanto que desesperei dele, tanto que o insultei e lhe rezei. Está aí, à porta, a última linha do último parágrafo deste capítulo. Não tarda começa outro.

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O amor bateu-me à porta e eu abri-a. Tem nome de flor e é uma flor. Deixei-a entrar e fechei a porta: daqui não sais, daqui ninguém te tira.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.