"Solo viaja la gente peligrosa: soldados, mercenarios y traficantes de esclavos", leio no Prólogo de El infinito em un junco, de Irene Vallejo. É uma história do livro, li recentemente uma crítica bastante positiva e fiquei curioso.
Mas o que me interessa não é isso. É: "Só a gente perigosa viaja". Nunca me vi como perigoso, longe disso, mas à face da Covid compreendo e ilumino a frase. Nós nómadas somos perigosos. Com ou sem vírus, o nómada é aquele que viu outras coisas. Que viu e não pode desver o que viu. Aprendeu o cepticismo pela via da prática e não pela teoria. Nós nómadas sabemos que há várias verdades, porque as vemos; e sabemos que a nossa é a melhor porque a transportamos connosco, porque resiste, porque se adapta, acrescenta. A cada paragem a nossa verdade engorda e confirma-se, num processo dúbio, biunívoco, fágico. Por isso somos perigosos: aprendemos, comparamos, vivemos com e pela diferença.
O nómada é perigoso numa ordem estática, tal como o sedentário seria perigoso numa tribo nómada: a erva é mais verde no prado do vizinho.
Isto tudo dito, concordo com a asserção inicial: a gente que viaja é perigosa.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.