Se por acaso: palavras no horizonte. Uma muralha de palavras no horizonte. Não sei se são palavras ou nomes. Rita, Tatiana. Helena. Suzanne. Ilse. Ana. Christine. Forma-se no horizonte uma nuvem carregada, cheia de nomes. Cristina. Viktoria. Rosa. Não digam a ninguém, mas esta nuvem não sabe como se chama. Hesita entre Vida e Memória e nenhum desses nomes lhe agrada. Aisha. Tschombé. Sou um milk shake de nomes, de catedrais, vitrais iluminados por um sol que mais ninguém vê se não eu. O presente é uma ilusão. Os budistas tinham razão até chegarmos a Auschwitz e agora, que já por lá passámos todos, estrela amarela ao peito, pijama às riscas. Nomes. Nuvens. Horizontes. Bar Rita. Onde estás, Rita? Onde estou? «Inabilidade fatal», chamou-lhe o outro, antes de ir vender armas para a Etiópia (não tenho nada contra a venda de armas nem contra a Etiópia. Tenho contra esta muralha de nomes). Tenho contra esta avassaladora falta de ti, pareces uma avalanche feita ausência. Rosa, flor, amor, todas as palavras rimam contigo e eu pergunto-me Como é isso possível? e respondo logo de seguida És o vocabulário todo. Palavras. Horizonte. Nuvens negras carregadas de chuva: nimbus. Que importa - temos chapéus de chuva, não temos? Temo-nos um ao outro. Temo-nos ao mundo, às praias, ao tempo. Uma longa praia no horizonte. Cores: amarelo, azul, azul. Nós. Horizonte sem nuvens, como se a vida fosse isso: nós na praia, nós no café da praia, nós no quarto, nós no tempo, nós. É. Nós: somos uma imagem do tempo, uma imagem espelhada do tempo.
Pode tocar-se o tempo ao saxofone, ao piano, à bateria, ao clarinete baixo, como agora faz Eric Dolphy. Onde estás, Rita? Onde estás, Rosa? Christine? Helena? Sandra? Ana? Tatiana? Porque estais tão longe? Como posso ser feliz contigo, Rosa, tão longe? Como posso ser feliz com esta vida tão leve, tão pesada, tão perto e tão longínqua? Tão distante? Sinto-me como se vivesse ao lado da vida, parado na faixa de emergência da auto-estrada, com os automóveis a passar por mim a toda a velocidade, rumo à praia com as nuvens.
Amar-te é saber-te parada ao meu lado, para sempre.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.