19.6.21

Sonhos, meta-sonhos e outras aventuras

No outro dia sonhei que não sonhava. Isto é, dormia e não sonhava e acordava inquieto: «como é possível não sonhar?», perguntava-me no sonho. Depois acordei, Vi que afinal sonhara e fiquei mais descansado. Sonhar é importante, mesmo quando as consequências são estranhas (são sempre. Passemos). Recentemente acordei exausto porque no meu sonho passara a noite a fazer actividades físicas, coisas que nunca faço, como lutar, subir a montanhas, atravessar rios pendurado em cabos e por aí fora. Acordei cansado e transpirado. Felizmente estava sozinho. Pergunto-me o que teria acontecido se tivesse uma senhora ao lado. Ter-lhe-ia batido, nadado o corpo, atravessado o rio? Não sei. Nunca saberei, seja como for. Mais uma lembrança que vai para o museu das memórias vivas, ou outro qualquer à escolha do leitor. 

Devíamos ter um museu dos sonhos. Creio que há um livro do Tabucchi com esse nome, ou algo parecido. (O Google é uma chatice. Já não há desculpa para estes «talvez». Há que ir confirmar, procurar a exactidão como se fosse conciliável com a memória, como se ser exacto fosse sinónimo de ter boa memória. Não é. Vou.) Chama-se «Sonhos de sonhos». É um livro do qual guardo uma excelente memória. Aposto que teria de novo prazer em lê-lo, se não estivesse agora mais preocupado com os meus sonhos, que me deixam exaustos ou que são uma espécie de meta-sonhos. De qualquer forma, tudo o que faço é sobre tudo o que faço, de maneira isso nem questão é. Não vivo: meta-vivo. Não sonho: meta-sonho. Não amo: ... mentira. Sim, amo. Amo no primeiro grau, amo linearmente, fluido e calmo como um rio na planície, como um rio que desconhece a foz. 

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