Hallelujah! Graças ao «pass digital» acabo de poupar vinte e cinco francos suíços (mais coisa menos coisa vinte e cinco euros): para ir ao teatro necessito dessa coisa. Pergunto-me se os comboios de putas cujos filhos andam por essas ruas a exigir tais coisas (ou a exigir que as exijam) também pedem passes, sejam eles digitais sejam de outra natureza. Voltei para casa amuado e frustrado, combinação de emoções que só serve para me alimentar a teimosia - um dos traços do meu carácter que dispensa alimentação - e decidido, mais do que nunca: ponham a cultura no cu. Não me vacinarei por uma peça de teatro, nem por um prato de lentilhas, nem por uma refeição no interior do restaurante. Não farei parte desta palhaçada até ter uma pistola apomtada à têmpora. Vão para a puta que os pariu, se conseguirem apanhar o comboio e nele encontrar as vossas mães.
6.10.21
Diário de Bordos - Genebra, Suíça, 06-10-2021
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Não fossem estes episódicos episódios, diria que esta estadia em Genebra está a ser um sonho. Fiquei a saber que vou finalmente entrar no selecto clube dos avôs, passeio-me por estas ruas limpas, calmas, sem buzinadelas excessivas, com montras bonitas e mulheres idem, compro livros como se tivesse mais três vidas para ler tudo o que tenho para ler, bebo vinho bom a preços excessivos e vinho assim assim a preços razoáveis, falo, zango-me e rio-me com S., confirmamos ambos que nunca poderíamos voltar a viver juntos mas que estar juntos é um prazer sem fim, pergunto-me que nacionalidade escolheria se hoje tivesse de escolher entre a portuguesa e a suíça (a resposta é: nenhuma. Só não sou apátrida porque não sei como se faz para o ser e para viajar com esse estatuto e de qualquer forma o assunto não me interessa o suficiente para perder tempo com ele).
Durmo em Genebra como não consigo dormir em mais lado nenhum, apesar de dormir num sofá chato de fazer e desfazer. Isto deve ter um significado, mas não sei qual é. Sei que ontem descobri finalmente o tripé do meu futuro: Lisboa, Genebra e mar. Parece-me bastante sólido: amor numa, amizade e família noutra, eu no terceiro. A ver, como dizia o ceguinho (à mulher que era surda).
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Comprei a revista Egoïste. Não sei se tem alguma coisa a ver com a portuguesa. No formato não tem, isso é seguro. Na qualidade da fotografia não sei. Há muitos anos que não via fotografia deste nível. Vou ver os artigos, mas duvido muito que me interessem: um deles é sobre a palerma da miúda sueca. Não percebo. Todas as proporções guardadas, é o equivalente daqueles restaurantes que capricham na carne e servem batatas fritas congeladas.
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Nem eu. Só se me levarem algemada. Quanto ao resto Luis a tua escrita continua fabulosa e fluída. Abraço daqui do Alentejo
ResponderEliminarObrigado!
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