Vivia do lado de fora da vida, como aqueles miúdos que dantes se penduravam no exterior dos eléctricos, deles saltavam em andamento e empurrados pela inércia corriam, corriam. Corriam até pararem e o eléctrico continuava sem eles. Não os esperava.
Por vezes, à noite sozinho na cama, dizia-se "mas o wattman do eléctrico sou eu." Depois corrigia para "era eu", e corrigia, corrigia até acabar em "fui eu". "O condutor do eléctrico fui eu. Hoje conduzo a minha corrida ao lado dele e já é um pau por uma pedra."
Só acontecia quando estava sozinho na cama, mas como o estava quase sempre, acontecia quase todos os dias.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.