21.5.22

Diário de Bordos - Ponta Delgada, Açores, Portugal, 21-05-2022

Regresso a esta terra que tanto amo, desta vez pela principesca mão da minha R., que é de cá. O cansaço é tanto que me sinto flutuar, parece que me passeio por estas ruas - das quais já nada recordo se não a beleza das calçadas e dos passeios - em cima de um colchão pneumático. Comemos bem - ando sempre com a tripulação, ficámos amigos e dos bons - bebemos melhor, eu sonho com vinte e quatro horas numa cama (sei que não as terei, é só um sonho) e - sobretudo - penso em quão necessitado estava de uns dias no mar. A viagem passou num ápice, saí ontem de Tortola, o jantar no Pusser's foi anteontem, estes quinze dias não passaram de dois ou três dias esticados. 

Com a óbvia excepção dos badanais. Foram dois, o primeiro com vento nos quarenta e rajadas a tocar os cinquenta, o segundo mais calmo - trinta e seis, trinta e oito, rajadas nos quarentas - mas mais violento por causa da chuva, foi um horror, não se via a ponta de um chavelho e a proximidade de terra e da chegada ainda piorava a coisa, quero chegar, quero chegar, esta merda não anda (mentira), estava encharcado por uma mistura alternada de água doce e água salgada.  

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A separação com os espanhóis foi rápida, cortez, cordial. Na verdade apercebi-me de que só aceitei este trabalho porque precisava de mar e acho um pouco egoísta da minha parte ter aceitado, mas enfim, estava mesmo a precisar, há quatro anos que só faço charters em Mallorca e isso não chega, de todo.

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O puto ontem redimiu-se e aqui lhe deixo a minha vénia. O rapaz tem matéria na massa cinzenta.

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Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres. Por um lado é uma sorte, a procissão é realmente bonita, mesmo para um ateu empedernido como eu. Por outro, azar: queremos alugar um carro e não há nada disponível.

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Não gosto de culturas populares: são demasiado barulhentas.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.