O cancelamento do voo provocou algumas «inconveniências» (aspas porque gozo ou porque cito, depende), as quais foram felizmente ultrapassadas, desta vez no bar Rita, bar dos meus amores há muito tempo e cada vez mais. Esta capacidade de me desenrascar é um dos piores traços do meu carácter, um dos que mais detesto: tem tanto de bom como de mau. Se não a tivesse seria provavelmente um excelente manga-de-alpaca numa repartição (das finanças, de preferência), ganharia um salário mínimo e meio e a minha vida seria o longo rio tranquilo com o qual sonho - nas noites de pesadelo? Talvez.
Continuo inquieto com a hora insuficientemente tardia para o despertar, mas enfim. Creio que o despertador do meu telefone funcionará, amanhã. Normalmente acordo sem despertador, mas desta vez tenho um neto à espera. Perder o avião não é simplesmente uma opção.
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Se um dia me reformasse teria imenso trabalho. Assim, não sei como vai ser. Jogar no totó-milhões não me atrai por aí além e não sou suficientemente ganancioso para aturar mulheres só porque são ricas. Resta-me trabalhar até ao fim e arranjar tempo entre trabalhos para pôr ordem nos meus vastíssimos talentos, sem os quais a humanidade não terá, decerto, um futuro feliz. Como sou um rapazinho com sorte talvez as coisas se componham e acabe tudo bem, como a pandemia ou a guerra na Ucrânia. Não: como as tempestades, que acabam sempre, mais cedo ou mais tarde e só sobrevivem na memória - naquela parte dela que nos serve para aprender e, se formos generosos, ensinar.
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Quando escrevo no Joan venho para o interior e não beneficio, portanto, desta esplêndida praça, sempre cheia a abarrotar - o bar abre às seis e às seis um quarto está cheio. É um dos sítios em Palma em que sou frequentemente o único estrangeiro, em que a língua que se ouve é maiorquino e no qual sei que sim, estou em casa. Como este não há muitos. O que este homem trabalha é vertiginoso. O gajo não só não pára como anda por estas mesas a uma velocidade alucinante. A esplanada é grande e ele está sozinho. Tem uma rapariga chamada Paz no balcão, o Rodri (que conheço de outras guerras) na cozinha e é tudo.
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Apareceu-me agora a possibilidade de ir trabalhar para Malta, coisa que «procuro» há algum tempo. As aspas são essenciais: nunca fiz nada por isso. Como de costume, limito-me a esperar que os astros se alinhem com a minha vontade, coisa que de vez em quando fazem e de quando em vez não. Ainda é demasiado cedo para gritar vitória, mas a mera possibilidade já me faz sonhar, coisa que me serve de combustível tanto quanto o desenrascanço, um barco rápido nas mãos ou outras coisas que agora não dá jeito mencionar.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.