9.6.22

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 09-05-2022

Aos sessenta e quatro anos e tendo vivido tudo o que viveu, um gajo sabe que quando se está na corda bamba não há lugar para oprimismo. Isto é, qualquer optimismo é excessivo. Tanto mais que uma  (ou as duas) extremidades da dita corda têm os nós a desfazer-se.

Hoje a easyJet fez-me o favor de desatar um desses nós: anulou o voo. O meu excessivo optimismo de ontem realizou-se. Isto dito, que noitada magnífica! Por causa dela amanhã vou ter de andar meia hora com o saco às costas e hoje exploro o lado barato (isto é um eufemismo) de Palma. De certa forma, conhecer os dois lados da moeda tem as suas vantagens. De todas as moedas. O pior vai ser levantar-me esta noite às três e meia. O resto aguenta.

Tudo aguenta, quando - ou enquanto - o centro aguenta.

Passemos aos factos. Deixemo-nos de tergiversações. Estou no Carrer dels Oms a oscilar (metaforicamente) entre as pizzas à fatia, o bar España e as arepas colombianas. O objectivo sendo evitar a supra-mencionada marcha matinal amanhã (esta madrugada). É pouco provável que consiga, porque isso implicaria uma simetria absoluta com os píncaros de ontem. A ver, como dizia o ceguinho, que é pouco dado a simetrias, absolutas ou não. 

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Palma é um destino bastante apreciado pelas camadas mais jovens dos países emissores.  (Não é bem Palma, é mais os arredores: Magaluf pelos ingleses, S'Arenal pelos alemães.) Isto permite a um velho marinheiro, isolado das últimas evoluções, ficar a par das tendências da moda jovem. Cor: branco. Decotes: grandes. Gigantescos. Cavados. Profundos. Numa palavra: abençoados. Ou em duas: benditos. (A esta hora não há jovens no carrer dels Oms. Estão na praia. Falo de memória, não por observação directa e síncrona.)

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Tornei-me dependente dos gelados do Claudio. Ontem deu-me a provar o de avelã. Um tipo capaz de fazer-me gostar de avelã (ainda por cima, em forma de gelado) tem o mundo à espera. O de pistaccio não era grande coisa e ele avisou-me. Disse-me "esse não está grande coisa", literalmente. Insisti. Para me compensar (ou terá sido recompensar?) deu-me uma colherzita do de avelã. Penso nisto agora e escrevo de seguida. Pode ser que isto me faça passar a vontade necessidade de gelado. Tenho um Häagen-Dazs a cem metros, mas podia estar a cem quilómetros que o efeito seria o mesmo.

Pode ser que a roupa já esteja pronta. De qualquer forma preciso de trocar de pólo, este está cheio de picante da colombiana. E está muito calor a bordo para a sesta. E... o stock de desculpas está no fim.

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Muito gosto eu de ver estes casais muçulmanos com eles vestidos como um alemão e elas cobertas da ponta dos cabelos à ponta dos pés. É que fico logo com saudades das feministas, de quem tanto gosto.

(Cont.)

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.