5.6.22

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 05-06-2022

Não sei aonde vão os economistas buscar dados para calcular a inflação. Aos restaurantes de Palma não é certamente: seria duas vezes superior ao que anunciam.

Vim jantar ao mini-restaurante Casa Julio. Também aqui os empregados mais antigos se lembram de mim e me cumprimentam com um sorriso franco de alegria. Não consigo deixar de achar infantil e risível este prazer e tão pouco consigo deixar de o sentir.

Na Casa Julio a inflação foi comparativamente baixa: doze e meio por cento. Metade (ou menos) da da Bottega Bolognese, por exemplo, que - verdade seja dita - estava estupidamente barata. Pois bem, agora já não está. Quando muito, passou à categoria "barata".

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Valente esfrega no P. De tal forma que a escova se mandou ao mar, exausta. Nem flutuar conseguiu: afundou-se de seguida. Felizmente já estava no fim.

Está outra vez a meter água pelos gualdropes. O P. gosta de uma boa luta. Eu também. P., vamos a isso, meu caro. Não penses que me ganhas por KO técnico (seja lá isso o que for). Posso não saber dar murros, mas sei domar embarcações selvagens. 

Às vezes até penso que nasci para isso, vê lá tu.

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Palma está cheia de turistas. Parece que o calendário se enganou de mês e estamos em Julho e não em Junho. Nho, Palma. Nho. Hoje chegou o primeiro voo directo de Nova Iorque (na verdade, de Newark). Algo me diz que a inflação não vai ficar por aqui.

A língua mais ouvida continua a ser o alemão, seguido do francês. Depois inglês e espanhol. Maiorquino vem no fim: só falam entre eles quando longe da "multidão enlouquecedora", suponho.

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À tarde fui de passeio ciclista até Portixol, aqui ao lado. A ciclovia passa mesmo por cima da praia. A moda do topless passou, está visto e revisto. Já a dos malditos fatos de banho que se metem rabo adentro veio para ficar. Um horror nunca vem só, como aquelas nádegas desgostosamente expostas e os seios frustrantemente escondidos demonstram. Só as senhoras mais avançadas no tempo resistem a uma e outra, prova de que a nossa geração tem um saudável relação com o bom gosto. 

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Continuo a encomendar livros que nunca lerei, a menos que uma abençoada doença me ponha de vez em casa, para sempre.

("Para sempre tendo aqui o prosaico valor de "até acabar os livros todos que tenho para ler". Nada de extrapolações líricas, por favor.)

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O bar Bog Foot não faz parte das minhas deambulações habituais, mas devia fazer. Descobri-o porque numa das minhas estadias airBnb fiquei num quarto ali à frente. Boa música, decoração decente, vinho bom e barato e - isto vale por tudo, naquela zona - sempre vazio ou quase. Fica perto do Corner Bar, o poiso dos yachties, gente por quem não nutro nem respeito nem afecto por aí além. 

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