7.8.22

Diário de Bordos - Pollença, Mallorca, Baleares, Espanha, 07-08-2022

Começa-se por dizer que:

a) Isto não é questão de trabalho físico e
b) tão pouco tem a ver com a idade.

O trabalho físico é pouco, quase nenhum; e a velhice - ou antiguidade, é melhor - não é a causa desta fatiga. Todos nos queixamos do mesmo, seja qual for a década que nos viu nascer.

O que me leva a concluir que há aqui uma forte componente de esforço intelectual, o qual cansa tanto ou mais do que o outro, como toda a gente sabe. Não deixa porém de ser verdade que quando me apanho na cama, luz apagada e telefone pousado, vejo a fatiga sair de mim como condensação num dia frio, ou como as almas a abandonar os corpos nas imagens da Idade Média. É um fumo branco que saúda a inactividade total. Às vezes tenho vontade de o seguir, de tão potente é a sensação. 

........
Para quem raramente dá um toquedurante uma manobra, este charter está rico deles. À chegada, foi um toque na plataforma de popa do vizinho. Tenho uma desculpa, claro; ou mesmo várias: o espaço era pouquíssimo, não conhecia o bote, tinha  cliente à espera e cheia de pressa. Felizmente foi uma coisinha de nada. Estou à espera de que a dona do barco me diga quanto vai custar a reparação, mas sei que vai ser pouco.

Hoje dei mais um toque, mas desta vez a explicação é só uma: má sorte. A cala é pequena,  estamos todos encavalitados uns nos outros. À minha amura tinha um veleiro do qual não tirava os olhos. Estava pronto a arrear mais corrente, dois metros ou três, caso fosse preciso. Durante uma hora os botes giraram, mexeram-se, passaram perto mas nunca estiveram em situação de se pegarem. Nisto passa um semi-rígido propriedade de um amigo da cliente e começa a recolher alguns dos miúdos  dela. Não pára o motor, o que já de si é estúpido. Mas o pior veio depois: um dos miudos não subiu, o semi-rígido continuou e o miúdo fica a trinta centímetros do motor. Eu estava a seguir a cena - foram dois minutos se tanto - preocupado, claro (isto é um understatement, se por acaso).

Foram dois minutos, os únicos dois minutos em que tirei os olhos do veleiro; como é óbvio, foram estes dois minutos que ele e o meu escolheram para passarem a vias de facto e dei-lhe um toque no dinghy, que estava pendurado nos turcos. 

Bom, resumindo: aquilo repara-se com epoxi e uma camada de tecido, foi ele que construiu a chata e pode fazer ele o trabalho, é um gajo porreiro e vou outra vez safar-me com cinquenta euros se tanto.

Ou seja: dois toques numa semana. Isto é de fazer explodir as estatísticas todas, por muito baratos que me tenham saído.

Adenda: é pior do que parece. Mais más notícias amanhã. 

.........
O dia começou às sete e meia da manhã e está a acabar agora, nove da noite. Na volta vamos a ver e é por isto que ando cansado.

..........
Vá lá que as crianças estão muito mais suportáveis. Até já começo a gostar delas.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.