Todos os dias passo à frente do restaurante La Llonja, que fica imediatamente antes do clube (para quem entra, claro. Para quem sai é depois). Está sempre cheio a abarrotar, tem toalhas de pano, copos bonitos, talheres de peixe e clientes bem vestidos. Ou seja, não é o sítio indicado para um pobre marinheiro longe de casa ir jantar todos os dias.
É, porém e sem sombra de dúvida o local adequado para celebrar o fim de um charter chato, longo, interminável, quotidianamente ou quase com duzentas e cinquenta crianças a bordo, movidas a energia nuclear e que rendeu a esperada gorja de zero euros e zero cêntimos. (Acho tão triste estas pessoas podres de ricas e patologicamente forretas que nem me chateio. Além disso, a verdade é que fiquei a conhecer bem o noroeste da ilha e descobri que o combustível nuclear de um grupo de crianças são as outras crianças. Aquilo alimenta-se a si próprio, cada uma delas activa a outra, numa reacção em cadeia sem fim. Não vale uma gorjeta decente mas um gajo agarra-se ao que pode.)
Ou seja: vim jantar ao La Llonja. As pessoas que enchem isto todos os dias estão prenhes de razão, como cantava o brasileiro bonitão. Só tenho pena de já não conseguir comer como antigamente: uns mexilhões em porção de entrada e não consigo acabar a sobremesa. Que desperdício...
Oops, no melhor pano cai a nódoa: só têm hierbas Tunel, uma mistela que está para as verdadeiras hierbas como o Nutella está para chocolate preto.
Claro que neste género de lugares a frugalidade não serve de nada. Aposto que por menos de cinquenta paus não saio daqui. Que se lixe. O vinho de sobremesa é demasiado doce - uma surpresa, tratando-se de um vinho de sobremesa - e este foi o melhor jantar desde que deixei o B., há duas semanas e pouco.
Tenho de escrever isto de novo e quando chegar a bordo vou verificar: duas semanas e pouco. É inacreditável. Parece que foram duas vidas e um bom pedaço de outra. Antes do B., com o casal de marroquinos também me deliciei. Não se pode dizer que esta época esteja a correr mal, do ponto de vista gastronómico. E se o transporte de La Rochelle se concretizar, vou continuar a comer bem. Mesmo que o vinho de sobremesa seja intragável. Mesmo que às nove e um quarto da noite só pense em ir para a cama dormir. Mesmo que este charter tenha sido uma tortura (enfim, sejamos justos: quase uma tortura). Mesmo que. Esta época está a correr bem qualquer que seja o ponto de vista e a cereja sobre ela vai ser a chegada do Leonardo e respectivo séquito.
Bom, vamos a meças.
Perdi a aposta.
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Esqueci-me de ir ao supermercado e de entregar a peça da água e o cartão da marina. Aparentemente, a ideia de largar de madrugada não apela ao meu eu interior. O problema é saber onde vou encontrar uma porcaria qualquer aberta às sete da manhã. A massa do cartão e da peça é recuperável noutro dia qualquer que cá venha. O pequeno-almoço não.
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A juntar às descobertas: a excelente qualidade do serviço do RCNPP (Reial Club Nàutic de Port de Pollença, em maiorquino no original).
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Enviei a candidatura à residência artística da Fundação Eça de Queiroz. A probabilidade de ser aceite é praticamente nula, mas prefiro perder a não tentar. Segui o meu lema: "Como sou me dou", que já serviu aquando da admissão ao Conservatório. (Dessa vez, a probabilidade era de dez por cento. Quanto será desta?)
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