O jantar de ontem foi uma merda. É incompreensível como duas pessoas com tanto dinheiro e tanto gosto (pelo menos o D.) acordam tão pouca importância à escolha de um restaurante. Ainda por cima o D. convidou-nos, como despedida. Resolveu desembarcar, por causa do enjoo. Por muito que gostasse da companhia dele - imenso - encorajei-o. Passar o dia todo deitado no salão sem sequer poder levantar-se não é vida.
Depois do jantar - num desses buracos para turistas sem ponta de interesse - fui em peregrinação ao café des Arts beber um rum. O rum era Trois Rivières, estava sozinho: deliciei-me. A seguir vim para bordo. Discussão agradável com P. Começou já não sei onde e acabou na eutanásia e na - quanto a mim - necessidade de zonas cinzentas no direito, quando os assuntos são demasiado pessoais e, sobretudo, dependem da moral de cada um para se encaixarem na arbitrariedade da lei. P. discorda, claro. O argumento é o habitual: o que não está legislado é passível de abuso. Sim, é. O ser humano é imperfeito e temos de viver com essa imperfeição. Querer corrigi-la leva-nos mais depressa à ditadura do que a ausência de lei em algumas áreas nos leva à anarquia.
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Largámos cedo, ao nascer do dia. É tão bonito, este porto. Sou um trans: levo uma vida de rico com um porta-moedas de pobre. Um milagre com pernas.
(Esclareço rapidamente que isto é auto-ironia. Um rico não anda num trinta e um pés, rumo à Córsega, a cinco nós.)
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Até nos pontos cardeais há hierarquias. As pessoas podem estar desnorteadas ou desorientadas, mas não des-suladas ou des-ocidentadas. O Sul e o Oeste deviam ter a possibilidade de serem referentes, tanto quanto os outros dois. Espero que os wokes se interessem rapidamente por este flagrante cado de injustiça cardeal.
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Gosto de andar no mar. Ponto. Não há barulho de motor nem ausência de vento que me consigam convencer de que estar no mar não é agradável.
Enfim, agradável não é o termo adequado.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.