16.9.22

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 16-09-2022

A esta melancolia dei um nome, já há muito tempo. Chamei-lhe «Melancolia da maré baixa», esta de agora ligeiramente exacerbada por tudo o que a antecedeu. Para a combater venho ao Juanita, um lugar daqueles que conjugam ser esplêndidos e eu não os frequentar suficientemente. É um restaurante como eu gosto: dono caracterial, empregada ainda pior, dois ou três pratos que mudam todos os dias, em função do que ele encontra no mercado e do que lhe apetece fazer. Fica numa rua estreita ao lado da plaça Raimundo Clar. A esplanada deve ser uma das menos atraentes de Palma, mas a verdade é que é um sítio especial e agora decidi renovar a minha carta de Palma. A última vez que estive aqui quase fui corrido, porque havia uma discussão entre o dono (ainda não sei o nome dele) e a empregada (ditto). Hoje a atmosfera está consideravelmente mais leve e fui recebido com profissionalismo e competência. A mulher deu-me um vinho que me fez dar um salto na cadeira, não por ser excepcionalmente bom mas porque ando há anos à procura de um vinho assim, aqui em Palma, e só agora o encontrei. O salto é simultaneamente de alegria e de exasperação. Porquê só agora, meu Deus?

(Chama-se L'Abrunet, a cave Frisach, vem de Terra Alta, na Catalunha, nas margens do Ebro. Um sítio que, aqui fica a promessa solene, visitarei um dia, em turista endinheirado e curioso, sedento de vinho, de vistas e de visitas a caves.)

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A chuva já veio, violenta e já se foi, pela calada. Os problemas de impermeabilização do meu P. ainda não estão completamente resolvidos. Às vezes sinto-me um cão às voltas a um poste para saber onde mijar. Voltas e mais voltas e não há maneira. E mais voltas. E mais voltas. Acho que o bote devia mudar de nome e passar a chamar-se SÍSIFO. 

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A agenda das próximas semanas está feita e fechada, bilhetes comprados e reservas feitas. Até dia oito de Outubro sei onde estarei. Fui ao calendário contar: três semanas. (Como dia oito é um sábado, provavelmente ficarei um pouco mais, mas não entremos em picuinhices. Já me basta o espanto de ter um bilhete de avião comprado com duas semanas e meia de antecedência. Vá lá que ainda só os compro de ida simples. Quando chegar a vez da ida e volta pergunto-me como será. Um terramoto? Um maremoto? Um aeromoto?)

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Hoje avancei bastante na selecção de fotografias. Percorri quase um por cento do caminho. Por este andar, no dia de S. Nunca terei as fotografias prontas e imprimidas, o que já representa um avanço em relação à situação anterior. Não sabia de todo quando começaria a seleccioná-las. Penso no digitalizador Epson que tenho em casa, nunca utilizado e bebo mais um copo de vinho. Se a memória pensa que me passa rasteiras está muito enganada. O L'Abrunet trata bem de mim, atenciosa e delicadamente.

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Saio do Juanita com os calções cheios de nódoas. Comprei-os ontem, usei-os hoje pela primeira vez e catrapaz, lá vão para as mãos cuidadosas e profissionais da Joana, a senhora da  à Sec que me atende e trata de minha roupa. Claro que a tentação é atribuir isto ao emagrecimento: antes, as nódoas estariam na camisa. Seria mentira, mas ele há coisas... e de qualquer forma o DV é um diário de ficção, por isso vamos assumir que uma roupa comprada por causa de ter perdido peso vai para lavar pela mesma razão. 

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As noites começam a exigir um lençol por cima da pele. Razão tinha o Nougaro, que chamava a Setembro o mês mais terno. E o mais sereno  acrescento eu: um lençol. Nada de excessos, nem de frio nem de calor. 

Amanhã o cobertor vai a lavar. Já só cá volto em Outubro e esse é um mês mais emotivo. Tanto lhe dá para um lado como para outro.

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