28.9.22

Votar com os pés

Nunca fui muito patriota e menos ainda nacionalista. É dificil sê-los quando se chega aos treze ou catorze anos no Portugal (Moçambique, no meu caso) de 1970; depois disso viajei o suficiente para saber que não somos nem melhores nem piores do que muitos outros. Temos qualidades que aprecio - a disponibilidade, a simpatia, a tolerância, o brio profissional - e defeitos que abomino - a cobardia, a mesquinhez, o deixa-andar, o respeitinho - (que não são consequência, mas sim a causa, da nossa indigência).

Algumas das melhores pessoas com quem naveguei são portuguesas; nunca deixa de me espantar a quantidade de elogios que recebo sobre os portugueses em geral quando me perguntam de onde venho.

Tudo isto porque tenho o neto no hospital e tenho ido lá todos os dias, naturalmente, para permitir aos pais que vão trabalhar. Não vale a pena bater no ceguinho e falar da diferença abissal entre um hospital público suíço e um português. As diferenças entre Portugal e a Suíça são muitas e quase todas elas abissais. O que me fascina é ver que em termos clínicos não há desnível nenhum entre os médicos portugueses e os seus colegas suíços. A diferença não está aí. Está no resto: na limpeza, na organização, na ausência de pessoas aos molhos nas salas de espera, nos corredores vazios de macas. Consequência da falta de dinheiro? Não. Da tolerância, da falta de exigência, da capacidade de adaptação, do medo de reclamar. 

Toda esta ordem tem um preço, claro. A questão que se põe é saber se estaríamos dispostos a pagá-lo para viver como os suíços. Centenas de milhar de compatriotas nossos respondem com os pés a esta pergunta. Os outros - alguns milhões - também.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.