12.10.22

Milésima ode a Lisboa (não é a última)

Ah, Lisboa, cidade, mulher e puta, que mal te chego me fazes saudades antecipadas. Pedalo-te as ruas, o calor, as caras conhecidas, o vinho tinto e a música do tempo, dos tempos todos, o que já foi e ainda aí vem, o de hoje e o de agora, no senhor David (que agora é o filho, Filipe), as melhores pataniscas de bacalhau do mundo e arredores. 

Mas és puta, cidade, vês-me como cliente, abres-me os braços, as pernas e ala que se faz tarde, venha o próximo, querido, que isto não está para pieguices, filho.

És demasiado calma para mediterrânica, demasiado pudica para céltica, demasiado viva para calvinista e pouco católica em tudo, mulher, amante e puta. Dás-te, vendes-te e resguardas-te, tudo ao mesmo tempo. Sem alarido, sem gritos, só à custa de olhares e de luz.

Ah, Lisboa. Já te fodi e já me fodeste. Estamos quites. Mas faz-me um favor, só um: não me largues, que eu nunca te deixarei. Ande por onde andar, esteja onde estiver.

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