7.1.23

Diário de Bordos - Genebra, Suíça, 07-01-2023

Os dias sucedem-se calmamente, como é suposto acontecer na Suíça.

Isto é irónico, claro: a Suíça são vinte e seis países e Genebra é o mais "mediterrânico" deles (com bastantes aspas, mas não tantas quantas se poderia pensar). A calma não vem só do exterior. Ao almoço tive os filhos e companhia, a um dia cinzento segue-se outro dia cinzento mas hoje houve sol de maneira saí de manhã cedo para ir fazer fotografias para a beira do lago e - oh revolução,  oh epifania, oh metamorfose - usei o microondas para aquecer o jantar. E não foi a única revolução do dia - também agradeci a presença de uma máquina de lavar loiça. (Parafraseando o imortal e lamentado Mitterrand, demasiada loiça mata a loiça.)

Não quero contudo que os leitores vejam nisto uma transformação radical e, sobretudo, perene. Para começar, não é a primeira vez que uso um microondas. Deve ser para aí a quinta, pelo menos. Em segundo lugar, tão pouco é a primeira vez que uso uma máquina de lavar a loiça com gosto. Durante o primeiro confinamento, em Palma, usei-a todos os dias. Era uma máquina pequena, que se enchia com a loiça quotidiana e dados os menus tipo avalanche que faziam a minha ementa diária a maquineta era muito bem vinda. Já à televisão continuo reticente, apesar do prazer que é ver um telejornal aqui: curtos, concisos, informativos. Mas o filme que hoje se lhe seguia, uma comédia franco-francesa chamada Bienvenue chez les ch'tis aborreceu-me ao fim de dez minutos apesar de gostar muito dos ch'tis, diga-se de passagem, e da respectiva região.

Não estou, portanto, à beira de uma revolução na minha relação com as máquinas. E muito menos com o tempo, também conhecido por modernidade. 

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Reencontro o supremo gozo da pontualidade. Até para um almoço de família as pessoas estão a horas e se houver algum atraso avisam (atraso sendo tudo o que passe os cinco minutos).

Uma das coisas às quais não me habituo em Portugal é a falta de noção das horas. Bolas, é tão fácil ser pontual! E sobretudo, o gozo que proporciona é muito superior ao esforço que requer.

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A relação dos funcionários públicos portugueses com o público para quem são supostos funcionar continua a exasperar-me. É um hino quotidiano à minha capacidade de retenção, de controlo da raiva. É simplesmente indecente. Não merecem a designação de pessoas. São vermes que deviam ser esmagados. Deviam ser pagos com cuspidelas e não com dinheiro. (Refiro-me aos funcionários das câmaras municipais, especialmente a uma que fica ali para o meio da linha de Cascais. Não deve ser muito diferente das outras, eu sei. Mas desta tenho provas.)

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