1.1.23

História de comprimidos

Por vezes adormecer dá muito trabalho, é muito laborioso. Ora tens dores nos ombros, ora estás enjoado, ora te dói a memória ou o futuro ou outra coisa qualquer. Há sempre uma dor à espreita, quando envelheces. Por uma qualquer estranha alquimia da vida, essas dores não são compensadas por uma igual e simétrica quantidade de alegrias - à noite. Durante o dia a história é outra e melhor. Nalgumas dessas noites tomo um comprimido para dormir. Questão de preguiça, só. Não sou nenhum S. Jorge a lutar com o dragão nem S. Cristóvão com o Menino aos ombros. São poucas. Tal como são poucas as vezes em que tomo um analgésico para as dores de cabeça, apesar de andar sempre com eles atrás. Nada tenho contra a indústria farmacêutica, note-se. Ou tenho pouco, vá lá. Globalmente faz mais bem do que mal. Não sei de onde me vem esta antipatia pelos comprimidos e remédios em geral. Creio que é uma simples questão de hábito: ainda não me habituei à ideia de que daqui a menos de um terço dos anos que já por cá andei deixarei de andar e de ter dores.  Ou então é pior, é uma forma deslavada de estoicismo. Ou uma crença infantil na capacidade da carcaça se desenrascar sozinha. Não sei. Felizmente, nestas lutas comigo próprio saio sempre a ganhar: com somnífero ou sem ele acabo por adormecer; e se a dor de cabeça é demasiado persistente entra um Paracetamol. Ganho sempre, qualquer que seja a facção de mim que levou a melhor.

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