28.2.23

Diário de Bordos - Comboio Lisboa-Porto, 28-02-2023

 Mais uma viagem-relâmpago ao Porto, ver se vejo. Isto é: ver se vejo bem. Depois das operações, há dois anos, tive uns valentes meses a sentir-me no paraíso: ver como deve ser e sem óculos. Mas depois o olho esquerdo começou a ageniar e agora juntou-se-lhe o direito. Isto é uma maçada porque já nem sequer posso acusar a esquerda de só fazer merda.  

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Graças às greves o comboio vai cheio. Não arranjei lugar numa mesa, o wifi não funciona – excesso de utilizadores, suponho – e a palavra “seca” é  insuficiente para descrever a viagem. Dantes tinha uma definição para estar teso: não poder comprar roupa nem durante os saldos. Posso agora acrescentar outra: não poder comprar um bilhete de primeira classe nem com o desconto “velhinho”.

Vá lá que ao menos o dia está bonito. O verde e o azul conjugam-se harmoniosamente, um terço da viagem já passou, a paisagem é bonita desde que não haja casario. Mal aparecem casas tudo se estraga. Que mau gosto, o dos portugueses. Não sei como são  - ou melhor, eram – as casas na Ucrânia. Aqui bem mereceriam um tratamento igual. Sem as mortes, claro. Só destruir este casario horroso, desgracioso, cúbico, todo igual, recente, sem ponta por onde se lhe pegue excepto a ideia de que alguém chama àquilo “a minha casinha” e se sente bem ali. Opinião essa que prevale sobre a minha e deixo de pensar em bombardeios.

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Cada vez que vou ao Porto assim, toca-e-foge, de raspão, tenho pena de não ter tempo para ver os meus amigos portuenses, para passear pela cidade ou ir almoçar ao Buraco. Há uma correlação positiva e causal entre tempo e dinheiro, sem dúvida. Ter um é ter o outro.

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Conversa com o jovem e prestável revisor. Diz-me que não é sindicalizado: "Não posso queixar-me do salário e dar quinze ou vinte euros por mês a esses gajos", explica. Digo-lhe que a CP devia ser privatizada. "Ninguém quer isto", replica. "É tudo sucata com rodas." Pedro Nuno, não te escondas, rapaz.

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Viajo com a pele à flor da emoção (e olhos postos no futuro, já que do presente vêem pouco).

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.