Pergunto-me frequentemente se fomos nós - a minha geração - que deixámos à nova este mundo que já deixou de se antever porque está presente, ou se foi a geração que se segue quem construiu o horroroso mundo que aí vem - que aí está - com o que nós lhe deixámos. Deve ser a primeira vez na história da humanidade que uma nova geração escolhe ter menos liberdade e menos humanidade do que a precedente. Não nos iludamos: o wokismo é o pior ataque ao humanismo de que há memória desde que o conceito foi inventado na Itália do séc. XV.
Não é só o wokismo. É também esta cultura do medo, da redução do outro ao estatuto de perigo potencial. A alteridade - que nós, hippies, soixante-huitards, víamos como uma riqueza é agora um risco que deve ser categorizada, classificada, enfiada em compartimentos estanques em nome, doce ironia, da inclusão.
A histeria securitária tomou conta da vida quotidiana. Defender-se é a atitude correcta (e exige que se inventem riscos em quantidade). Segurança acima de tudo - inclusivé acima da liberdade, da individualidade - que desapareceu, trocada pela identidade - do futuro, esse risco insondável.
A minha geração pode limpar as mãos à parede? Ainda não sei. Mas já sei que o que aí vem não é bonito, nem humano. O medo tomou conta do mundo e onde há medo não há Razão.
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