1.3.23

Diário de Bordos - Lisboa, 01-03-2023

Venho pela primeira vez a este bar. Chama-se Cockpit. Sei pelo C. M. F. que tem óptimos pregos, mas isso agora fica para próximos ventos, menos calmos. O bar aqui em baixo é pequeno, acolhedor, bonito, bem decorado. A música é demasiado lounge para o meu gosto - sobretudo vindo do Passevite, onde ela é superlativa - mas é suportável.

De repente ao meu lado rebenta uma conversa sobre futebol e a magia desmorona-se, estilhaça-se. Felizmente dura pouco e a harmonia restabelece-se. Ainda por cima o C. vem cá ter: a envolvente fecha-se.

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- Está tudo bem ou estás desesperado? - a pergunta resume uma filosofia. Desespero é desespero e tudo o que não é desespero está bem. E ainda falta definir desespero: é quando tens a água pelo lábio inferior, os pés presos na poita, a maré a subir, as mãos amarradas atrás das costas e não podes excitar-te. Algo acontecerá, alguma coisa mudará, alguém aparecerá, o nó que te prende as mãos desatar-se-á, a Lua mudará de direcção e arrastará com ela as águas. 

Sim, R., minha querida: está tudo bem. Não estou desesperado. Estou com água pelo queixo. Está muito longe dos pulmões. Nunca lá chegará, sequer.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.