13.4.23

Repugnâncias, coerências, certezas

Tudo começa com Cioran, claro: "Rien ne dessèche tant un esprit que sa répugnance à concevoir des idées obscures". Em lugar de "ideias obscuras" pôr "ideias incoerentes": Nada seca tanto um espírito como a sua repugnância em conceber ideias incoerentes. Ou incertezas: a desonestidade de um pensador mede-se pela quantidade de certezas que produz. ("La malhonnêteté d'un penseur se mesure à la somme d'idées précises qu'il avance".)

É preciso voltar às origens: Beckett e Cioran. Ambos nos dizem o mesmo: nada é seguro. Usa as ideias como um cachorro um osso de borracha. Duvida de tudo com a inevitabilidade de uma queda de água. Avança pelas ideias como os heróis de Beckett nas suas paisagens desoladas: devagar, coxeando, usando como bengala as incertezas. Mas avança. 

Je ne sais pas où je suis, je ne le saurai jamais, dans le silence on ne peut savoir, on doit juste avancer.” (Samuel Beckett, in L'Innomable)

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.