12.4.23

Diário de Bordos - Genebra, Suíça, 12-04-2023

O meu café favorito em Genebra é o da livraria Payot nas Rues Basses. O café propriamente dito não é grande coisa. Mudaram dos cafés Carasso para uma coisa chamada Brew Society e saiu porcaria, claro: demasiado torrado, amargo, feito numa máquina de expresso perde-se toda a fineza e subtileza do café "betula bourbon" (entre aspas porque nunca tinha ouvido falar) colombiano. Mas... ainda não chegou o tempo em que se vai a um café para beber café. Vai-se para beber café, o que é diferente. 

Há outro café assim, o Chez Slatkine, na Vieille Ville. Mas o Slatkine é um editor, não é uma livraria e a maioria dos livros nas estantes são naturalmente os seus. Aqui há mais, muitas vezes mais. E a clientela é mais variada.

Escrevo, portanto e bebo café, leio o jornal, oiço meio distraído meio involuntária meio inevitavelmente a conversa das duas jovens senhoras à minha esquerda, ambas no início da trintena, uma com a filha de quatro cinco anos ao colo. Os diálogos entre as três desenrolam-se em francês mas quando se cingem à mãe - filha passam para o inglês. Na mesa a seguir dois senhores discutem um livro, mas estão demasiado longe para que eu possa perceber mais do que alguns farrapos de frases.

À minha direita está outra jovem mãe, esta com duas filhas. Uma mesa mais longe outro conjunto mãe/filha discute a compra de varios livros pela miúda (às quartas-feiras não há escola, donde tantos miúdos em idade escolar). O futuro da livraria Payot - e por extensão, das outras - parece promissor. Mesmo que um dos clientes seja um velho teso que olha para os livros como um eunuco para as mulheres nas montras de Amsterdão. 

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Lidar com os nossos preconceitos não é difícil: basta mantermos com eles um diálogo permanente. 

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Chemiserie Centrale: uma camisa - linda, por sinal - a duzentos e cinquenta francos suíços (um pouco mais em euros). Que tipo de trabalho é preciso ter para poder pagar isto? Conheço gente para quem este montante representa menos de um quarto de dia de trabalho - um sexto, para ser preciso. Mas pergunto-me se na verdade a única forma decente de pagar duzentos e cinquenta francos por uma camisa não será com dinheiro ou herdado ou roubado.  

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