21.5.23

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 21-05-2023

Hoje ao almoço (isto é, agora) encomendei uma salada. Se eu quisesse exagerar diria que é a segunda vez. O exagero não funcionaria, porém. Seria demasiado pequeno. Quem quer um exagero pequeno? Eu não. Felizmente a salada estava uma porcaria. Tão cedo não  corro o risco de reincidir. 

Isto dito, gostaria muito que alguém me explicasse como é que se faz para conseguir uma salada de merda. Ou então é ao contrário: como é que se faz para elas ficarem boas? Não tenho resposta a nenhuma das perguntas, falta-me experiência. 

Ainda por cima comi-a numa esplanada, apesar do frio quase glacial (isto sim, é um exagero como devem ser os exageros). Não gosto de comer ao ar livre. Até os neandertais comiam nas grutas, bolas. Mas hoje é domingo e estava com fome, duas coisas cuja relação com a esplanada salta aos olhos. Só não vê quem não quer (sobretudo porque o café tem mesas no interior).

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Na mesa ao lado estão duas senhoras muito amigas uma da outra. Penso que muitos dos meus leitores (e algumas das leitoras) concordarão que às vezes é um desperdício. Neste caso, dois desperdícios. As miúdas são giras e têm cara de quem já aprendeu a falar e - mais importante - a calar-se.

Aprender a falar é sem dúvida um patamar importante no desenvolvimento pessoal; contudo, aprender a calar-se é mais importante. Mais significativo. Mais partilhável, por assim dizer.

As miúdas falam, partilham o prato e, de vez em quando, muito levemente os lábios uma da outra. Eu estou cheio de vontade de partilhar o meu sono com elas, mas a diferença de idades é muito grande.

(Ainda há quem não veja vantagens na idade...)

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Afinal o restaurante não foi mal escolhido. Pelo menos a julgar pela sobremesa - um excelente bolo de laranja e amêndoas - e pelas hierbas secas, sem marca e quase tão boas como as da Pamboleria, para mim agora a referência. Não fosse o frio e sentir-me-ia "no paraíso" (aspas porque ironizo. Paraíso deve ser a segunda palavra que mais oiço no meu trabalho).

Provavelmente aquele é o gosto normal de uma salada César e provavelmente as miúdas estão sentadas de tal maneira que não as vejo bem por vingança de Deus, que não gosta de velhos lúbricos, gordos,  carecas e cansados. E doídos (atenção, o i está acentuado). O Sacana deu-me esta sorte que é trabalhar na única coisa que sou capaz e gosto de fazer e faz-ma pagar com uma avença de mulheres bonitas,  sensuais, manifestamente apaixonadas uma pela outra, inalcançáveis, frio em Maio em Palma e vontade de comer saladas num restaurante.

Não é caro, meu Caro. Pago de boa vontade (desde que não me faças comer outra salada nos próximos vinte anos).

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As pequenas acabaram de comer. Podiam beijar-se um bocadinho menos, que diabo. Estão a adulterar-me a serotonina.

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Hoje o meu Pai faria noventa e sete anos.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.