Havia uma vez em Genebra um tipo para quem trabalhei. Era dono de um estaleiro naval, «herói» do lago, um magnífico filho da puta e dono de um 6M JI antigo. Numa entrevista a um jornal (ou a uma televisão, pouco importa), definiu assim a sua participação nas regatas: «o que é preciso é largar o melhor possível e ir perdendo lugares pouco a pouco e não todos de uma vez». A táctica resultava: estava frequentemente nos primeiros lugares das classificações dos clássicos. Os filhos da puta raramente o são por acaso ou injustamente.
Hoje o meu dia fez-me pensar no L. B. Começou optimamente e depois lá fui perdendo lugares, pouco a pouco. Por vezes recuperava um, perdia dois, ganhava-os outra vez e assim foi continuando até acabar bem colocado. O P. acabou por ir hoje para a água, depois de um filme de Charlot que começou por ir na quinta, mudou para segunda, depois para terça, depois para segunda de novo, depois para terça e finalmente foi hoje (segunda, para quem estiver perdido). O tanque de água doce está todo nos fundos, não sei porquê - se bem adivinhe - mas consegui um miúdo para fazer o trabalho de uma mulher a dias a preço de mulher a dias, o que compensa largamente. O desgraçado amanhã vai começar por limpar os fundos ao bote, que foi onde eu comecei, três dias a limpar uma mistura de anos de óleo, outros tantos de sujidade e água salgada. Este puto amanhã terá mais sorte: é só água doce e pouca sujidade. Depois trata-se de descobrir de onde vem a água. Felizmente a bomba de água doce estava desligada e de qualquer forma que os encanamentos não estão muito católicos é coisa de que suspeito faz agora algum tempo. Felizmente é coisa rápida de se tratar e reparar de vez. O frigorífico funciona bem, as baterias estão impecáveis - ao contrário do que temi à ida para o STP - e amanhã vão montar a retranca (eu diria que vão começar a montar a retranca, mas por agora chega de pessimismo). A tradução da baixa do registo polaco para espanhol custa cem euros e demora dois dias úteis.
Acho que isto tudo é de celebrar com um rum no Jaume, não vá o diabo fazer das suas e lixar-me o dia de amanhã. E Deus sabe que o meu P. tem um rebanho inteiro de bodes de corninhos, com cheiro a enxofre e línguas bífidas.
E assim acabou o dia. Um Santisima Trinidad no Jaume, um gelado no Claudio (mascarpone com pera caramelizada. Precisava de um bocadinho mais de pera para estar perfeito) e uma espreitadela ao meu dormitório de diabos, não fosse um deles acordar e dar-me cabo dos planos. Estava em ordem: à água doce do tanque não veio misturar-se água salgada da piscina. Eu tinha a certeza, mas uma coisa é ter a certeza e outra, completamente diferente, ter a certeza e com diabos e pandemónios não jogo aos dados.
Agora durmo e sou feliz, boa mistura que dor nenhuma consegue deslaçar.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.