20.6.23

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 19 e 20-06-2023

De um ponto de vista burocrático, sair de Portugal e vir para Espanha é como saltar da frigideira e cair no fogo.

Enfim, na verdade de todos os pontos de vista. Espanha é Portugal em dez vezes pior (cinco porque tem cinco vezes a população e outras cinco porque cada um deles pensa que vale por dois).

Adoro esta cidade, as Baleares (com a excepção de Ibiza, de que gosto, só), adoro a Andaluzia e a Galiza. Tenho aqui bons amigos, sei de boa gente. Isto é exactamente como os franceses: quando a unidade é a unidade são gajos porreiros, afáveis. Quando a unidade passa ao milhão transmutam-se e o país fica insuportável. 

Até agora tenho vivido à revessa, bem abrigado, a beijar as rochas e a coisa tem ido. Com a compra do BP embati de frente na outra face da Lua e pronto.

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Metade da clientela feminina do restaurante parece que saiu de um casting da Vogue. A outra metade saiu, sem parecer - isto é, de certeza - dos quarteirões chiques de Palma. Há dois ou três machos alfa espalhados pela sala. Um deles sentou-se na mesa ao lado da minha. Infelizmente o correspondente troféu ficou do meu lado. O restaurante chama-se Giromatto, é giro mas não mata. Os saltimbocca estavam correctos, o Chianti era aceitável e o limoncello bastante bom. Não se pode dizer que encontrá-lo tenha sido obra do acaso; eu pedalava de facto ao acaso nas ruas de Santa Catalina à procura de um italiano e vi aquele, àquela hora ainda vazio (ando com horários de alemão). Acaso anula acaso: têm sinais alternadamente opostos. Mais acaso menos acaso igual a zero acaso. Depois vim para casa dormir, dormir e conferenciar com a almofada sobre esta história do BP.

Como nestas coisas um azar nunca vem só (e os azares não se anulam, são todos do mesmo sinal, adicionam-se) o registo civil de Loures recusou-se a dar o passaporte ao P. C.  Pedi-lhes que e dêem pelo menos o número. Vamos ver que desculpa arranjam para me dizer que não.

Adenda: a responsabilidade. Não lhes passa pela cabeça que quem não gosta de responsabilidades não devia ir para lugares que a requerem.

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Comi as primeiras brevas. Estamos a meados de Junho, bolas. Malditas altera... Benditos frutos. Eu sei que há uma palavra portuguesa para designar esses figos tardios (ou precoces, dependendo do ponto de vista), menos doces do que os outros mas com tanto ou mais sabor. Brevas, meus amigos, brevas. Tereis o Mediterrâneo na palma da mão e a felicidade num dos seus lugares favoritos: a boca.

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Concerto em favor da luta contra o cancro e em homenagem a uma senhora chamada Mayka que dele morreu e era amiga de muitos músicos (ou era música, não consegui destrinçar). Magnífico. Doze músicos e dois poetas (à vez) interpretaram músicas de que a senhora gostava e evocaram lembranças pessoais. Foi comovente. No ultimo tema o Vicençs ganhou asas. O homem toca como um deus, quando o toca a mão de um. Faz-me pensar num saxofonista genebrino chamado qualquer coisa Ferro. Ouvi-a por vezes no jardim à frente de casa e um dia, muito antes dessa casa, consegui pô-lo a tocar no Marchand. O Vicençs aqui em Palma é conhecido, é certo. O Ferro em Genebra só era ouvido por meia dúzia de melómanos. Contudo, são parecidos.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.