16.6.23

Diário de Bordos - Barcelona, Catalunha, Espanha, 16-06-2023

Não se pode dizer que setenta e tal euros por uma noite de hotel seja barato, tanto mais que a pensão Alamar não é sequer uma pensão, quanto mais um hotel. É um sítio com quartos. A seu favor tem a limpeza, que é irrepreensível. E, claro, o preço: foi o lugar mais barato que encontrei perto de onde estava e que me respondeu imediatamente. Ainda estamos em Junho e Barcelona já está cheia, de modo que encontrar qualquer coisa a preços módicos obriga o viajante a ir ou para casa do diabo mais velho ou para as pensões Alamar deste mundo (no outro são piores, de certeza).
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Para ir de Barcelona a Roses - cento e sessenta quilómetros - começa por se apanhar um comboio de alta velocidade; depois passa-se para uma camionete e depois ainda para outra. Ao todo, duas horas e meia de viagem. Ou seja, uma média de sessenta e quatro quilómetros por hora. Se se considerar que a primeira hora desse trajecto é feita num AVE, comboio de alta velocidade, a quase duzentos à hora... se se considerar isso, dizia, compreende-se que o velho mito do cem à hora está vivo e bem vivo.

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Já fiz muitas viagens estúpidas e inúteis na minha vida. Esta foi só mais uma. O pior é a desilusão. Fui para Roses a pensar que sairia dali de semi-rígido. Volto como fui: autocarro, autocarro e AVE. E a desilusão: quero pôr o BP a trabalhar ontem, se faz favor.

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E agora é isto: seis horas até o avião descolar, quatro até ir para o aeroporto, muito sono a pôr em dia.

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Adenda:

E agora é isto: vim até à Rambla, deixei-me enganar mais ou menos voluntariamente na Boqueria, tento lembrar-me de uma praça que não fica muito longe daqui, de repente vejo-me em Coventry Garden e penso que ando com as geografias todas misturadas. Já não sei onde é o raio da praça nem sequer se é em Barcelona (é), encontro refúgio num bar - restaurante calmo e bonito e passo um bom par de horas até chegar uma horda de ingleses o que basicamente implica que tenho de me ir embora, não quero alimentar a minha alergia. Vou para o barzito que descobri ontem perto da «pensão» Alamar, ali não há o risco de entrarem hordas pela razão simples de que não há espaço para elas (além de que aquilo é tudo menos apelativo), contrariamente ao Portalón aonde agora me encontro, que é bonito, tem vermute de Reus e uns óptimos boquerones. E ingleses (que afinal não gritam tanto como fizeram supor quando entraram).

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O dia foi uma merda mas acabou maravilhosamente por causa do P. C., que me vai buscar o passaporte. É aquela história das nuvens e dos contornos de que aqui falei há coisa de um mês (foi há dois meses, em Abril). A próxima vez que me apetecer dizer mal da burocracia portuguesa penso na espamhola e dentros da espanhola na catalã e acabo aos beijinhos a todos os funcionários públicos portugueses (as senhoras da Conservatória do Registo Civil de Loures que em Maio me atenderam já os merecem).

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Começo por me perguntar por que raio de carga de água as pessoas hoje me pareceram tão antipáticas, daí apercebo-me de que hoje não tive quase dores no ombro direito, confirmo no Portalón que o serviço é simpático, competente e profissional e vejo que quem foi execrável hoje comigo foram os funcionários dos caminhos de ferro e isto sobretudo porque lhes pedia informações e a resposta era a outra companhia de comboios. Há duas, uma da Catalunha outra do governo central e quem trabalha para uma acha-se na obrigação de não tratar bem os passageiros da outra, sendo a uma e a outra intercambiáveis. Daqui pergunto-me o que aconteceu à dor no ombro e tento chatear-me porque o avião está com uma hora e meia de atraso. Falho redondamente, seja porque estou demasiado cansado para me chatear seja por causa do passaporte. Além disso fico contente por er resolvido o enigma matinal, apesar de continuar a achar estes gajos provincianos, chauvinistas e - no caso específico do director comercial da Rosesnautic, o gajo que me vendeu o barco - de uma incompetência fenomenal. Monumental. Se alguém um dia quiser fazer uma estátua à incompetência pode usar o R. M. como modelo.

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Quaisquer que sejam as piadas a fazer sobre as miúdas à minha volta - cada vez mais e mais jovens - uma coisa é forçoso reconhecer: há uns anos não eram tantas e eram mais velhas. Isto é um facto cientificamente comprovado. Tal como, de resto, o facto de nunca o mau gosto ter atingido os píncaros por onde hoje anda. Ou seja, há dois factos a reconhecer e não só um, ambos com igual solidez empírico-teórica.

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