Passam a vida a dizer que um homem não chora. Sou um homem, portanto não choro. Isto é lógica para principiantes. O que a lógica não menciona é que por vezes os homens precisam de chorar. Ou então de beber rum com sumo de laranja no Jaume, depois de um gelado de kefir e arándanos no Claudio, combinação fatal para as lágrimas, conhecida desde os estóicos. É um segredo de Polichinelo: as lágrimas dissolvem-se em rum e em gelados do Claudio. Para alguma coisa hão-de servir: por exemplo, lembrar-nos pérolas da sabedoria antiga.
Ah, também fui comprar calções Napapijri número trinta e quatro, mas isso foi truque da minha metade feminina, a que não se deixa enganar por rum e gelados esquisitos. Agora tenho aproximadamente duzentos calções dessa marca para vender, números quarenta, trinta e oito e trinta e seis. A Rossella disse-me para parar no trinta e dois. Expliquei-lhe que não fiz nem faço nada para aumentar o volume de negócios dela: a culpa é do Trulicity, abençoado seja.
Escrever também ajuda. A palavra lágrimas, por exemplo, escrita com a caneta Parker que comprei na feira da Ladra substitui as lágrimas reais que quero chorar. Ou preciso? Chorar é uma necessidade ou um capricho?
Não sei. Sei porém que pouco a pouco aquilo que me provocou esta vontade - ou necessidade? - de chorar se vai entranhando em mim, dissolvido em rum, gelados e calções. Como toda a gente sabe desde os estóicos, chorar é uma necessidade superficial. À medida que a dor se afunda e sedimenta o choro dá lugar à vontade de encontrar alternativas às lágrimas. Também conhecidas por soluções, paliativos e assim.
O P. vai passar mais um Verão em Palma. Abriu a época de caça às alternativas, também conhecidas por soluções. Parece-me que a minha vida tem sido isto: procurar soluções. A primeira já está no horizonte. Vai ser testada amanhã.
Vá lá. Consegui escrever um post inteiro sem mencionar as mamas da senhora que acabou de entrar no Jaume, salvo seja. A mulher acertou em cheio: entrou no momento em que eu julgava ter acabado de escrever. O homem que está com ela é feio para burro, mas enfim. Acredito na sorte e na capacidade que tem de se espalhar. São quase oito da tarde e os turistas começam a entrar para jantar. Palma é uma das plataformas escolhidas pela evolução feminina para mostrar aquilo de que é capaz.
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Palma está sob uma "onda de calor". Antigamente, a isto chamava-se Verão. Suspeito fortemente que as alterações são tanto climáticas como lexicais.
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O processo de dissolução de lágrimas continua, desta vez no Antiquari. Quem não tem casa tem muitas casas. Não ter onde cair morto é uma coisa; ter onde chorar é outra, melhor.
(Cont.)
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.