5.8.23

Diário de Bordos - Blanes, Catalunha, Espanha, 05-08-2023

A resiliência é perniciosa. Ceder à mediocridade, refugiar-se no álcool ou na loucura, na morte - refúgio supremo mas reticente, não se dá facilmente - é, isso sim, prova de sageza. A banalidade é um porto de abrigo. Deixar a adversidade ganhar, baixar os braços, reconhecer a derrota com uma vénia, chapéu baixo: eis os princípios de uma longa e feliz vida.

A mente explode-me - isto, explode ela e explode-me a mim, que a acompanho em tudo o que faz. Bebo rum, oiço um argentino tocar um orgão portátil, volto a beber rum, o homem toca Hallelujah («é a única canção que conheço dele» - há sempre uma desilusão ao virar da esquina).

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Resumo: o carro da T. avariou e tem de ser repatriado. Onde eu antes tinha um barco para levar para Lisboa agora tenho um barco e um reboque. O carro parou às dez e meia da noite e chegámos ao hotel às duas e meia da manhã, comigo metamorfoseado em zombie, esgotado pelas muitas horas de condução, pelas poucas horas de sono em Viana e pela energia esfuziante e omni-direccional da T. - que, forçoso é reconhecer, obteve resultados, por muito grande que a sua desproporção com a energia neles investida me pareça.

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