É mais ou menos essencial resistir à tentação de proscrever palavras. Todas são precisas (em todos os sentidos do termo, porque as palavras, como as pessoas, têm sentidos).
Aventuremo-nos, mon amour, pelos sentidos com palavras e gestos, com toques e carícias, com olhares e reservas. Sem reservas nada é possível. Nada se nos dá sem reservas, nem mesmo o vinho que quando é bom é "reserva" (mais ou menos. Isto não é uma aula de enologia).
Regressemos ao real, essa armadilha de onde pensámos que saímos na adolescência e na qual nos atascamos involuntariamente, no segundo grau por assim dizer, quando crescemos: eu gosto do real. A realidade fascina-me, intriga-me, inquieta-me e assusta-me. Não há forma humana de não gostar dela, de não ser atraído para aquele buraco de contradições e espinhos.
As palavras descrevem o real e imaginam o irreal? Isto discute-se - com palavras, não a murro. Acredito que elas fazem o futuro. Isto é: antes de ser, o futuro é palavras. Palavreado. Trinta e um de boca.
Interditar palavras - quase, por exemplo. Esperança. Solidão. Sofrimento. Sozinho - é uma forma injusta de amputar a realidade. E de seguida o futuro, que não sai incólume desta cirurgia. Omitir palavras é como impedir um dedo de fazer qualquer coisa.
Proscrever palavras é como dizer "dessa água não beberei". Fatuidade, claro. Cada palavra é uma gota de água e todas são precisas.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.