O "meu" P. hoje ganhou um prémio: uma garrafa de Flor de Caña 5 Años que a treze euros e noventa e cinco cêntimos é sem dúvida alguma a melhor relação qualidade preço do mercado rum-ístico desta cidade. É preciso reconhecer que não foi só o bote. Eu também. Estou cansado de tentar emborrachar-me e não conseguir, desgraça essa que já leva meses (ou meras semanas: quando é que foi o jantar no Tambarina?). Verdade seja dita: essa do Tambarina não conta. Foi caótica. Faltou-lhe método e propósito. Além disso acabou mal, comigo a guiar num estado em que nem para pedalar serviria. Vá lá que não aconteceu nada para além do vexame que foi perder-me na Costa da Caparica para ir de Santos a Carnaxide. Isto por aqui tem sido muito pior: não consigo sequer engrossar-me. Imaginem o Casanova com "disfunção eréctil" (aspas porque estou a gozar) e vejam como me sinto. Não admira que a burra ande melancólica, eu ansioso e o P. impaciente. A ver se com a Flor de Caña o acalmo um bocadinho.
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O De Passagem vai ter ainda mais páginas do que o Avenida. Cinquenta por cento mais, para ser exacto. Não fosse a crítica do João R. e cobrir-me-ia de areia e vergonha em iguais proporções. Assim, resta-me esperar que a IA (ou o F. G. de C.) tenham feito o que eu não fiz: corrigir as minhas iluminações informáticas, também conhecidas por estupidez. E beber Flor de Caña, en attendant. Uma coisa compensa a outra, espero. Tal como costas que se coçam ou mãos que se lavam.
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Os cumulus da tarde estratificaram-se e agora desapareceram, substituídos por cirrus devidamente estratificados também eles. Isto deve ser um pré-aviso dos "comboios de depressões", que aqui entre nós bem podiam ter a amabilidade de escolher Portugal para estação terminal e não atravessar a Península Ibérica. Na verdade, não lhes quero mal: estava a ficar farto do Verão. É bom poder sair de manhã com uma camisa de mangas compridas e a meio da tarde não estar a precisar de assaltar uma fábrica de desodorizantes.
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Leio no FB um poema de Nuno Júdice que não conhecia. O poema é lindo, passe o pleonasmo e apetece-me gritá-lo no restaurante aonde estou, ele também lindo (é o Patrón Lunares, se por acaso). De Júdice a memória foge-me para o Celso, com quem comecei a ler poesia na rua. Foi em S. Luís do Maranhão, podia atribuir-se tudo ao sotaque português, era gente boa, acolhedora... Daqueles incuráveis sofrimentos que a morte de amigos me atribuiu, a do Celso está num dos lugares do pódio. Hei-de ler este poema, Celso. Juro-to.
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A julgar pela quantidade de água que bebi ao acordar da sesta, a mistura de vermute, vinho tinto e rum nas quantidades certas teve o efeito procurado.
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«UMA PASSAGEM IMPOSSÍVEL
A mulher que espera o verde para atravessar
a rua olha para o infinito. Talvez não haja nada
do outro lado da rua que vai atravessar, e
talvez aquilo de que precisa esteja nesse ponto
para onde olha, para lá do estranho céu
que ela interroga. O vermelho passou a verde, e
o verde voltou a ficar vermelho; e a mulher
não se move, prendendo o meu olhar
com a sua imobilidade. E os braços
parecem esperar alguma coisa que não vem, como
se estivesse numa sala de baile à espera
do convite para dançar. Juntam-se à sua volta
as pombas da rua, como se os pedaços
de sombra do seu corpo as pudessem
alimentar antes do seu voo. E acabei
por me aproximar do poste onde o verde
e o vermelho alternavam, apenas para ter
a certeza de que ela não era uma estátua e
fixar os meus olhos no ponto para
onde o seu olhar se dirigia: esse pedaço
de infinito onde ela misturava o azul
com o branco, como se o céu fosse o quadro
que pintava com as mãos da sua alma.»
Nuno Júdice
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.