12.12.23

Livro de Bordos - Paris, França, 12-02-2023

O senhor ao meu lado no Orlybus é português. Deve ter pouco mais de sessenta anos. Fala com os vizinhos da frente, num francês parisiense fluente e totalmente isento de sotaque português. Aparentemente é algarvio. Pelo menos comprou um apartamento no Algarve. Diz uma quantidade prodigiosa de disparates, que alterna com banalidades igualmente prodigiosos. Trabalhou nas obras, tem um joelho artificial, foi operado em Portugal num hospital privado, "nós que tínhamos o melhor sistema de saúde do mundo. Destruído em dez anos". Antes disso falava da chuva: sempre no princípio do mês durante uma semana, porque é Lua cheia. Ainda não chegámos à política mas aposto que vota Chega ou FN.

Tento não ouvir a conversa. É doloroso conciliar isto com a ideia de que o homem é um animal racional. A menos, claro, que se dê um vasto leque sintáctico a racional. 

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Consegui um hotel na minha querida rue Daguerre. Há quanto tempo não venho aqui? Mal reconheci o terminal de Orly. Durante quase um ano passei por aqui quase duas vezes por mês. Mas fui há muito tempo.

(O senhor algarvio tem boas bases de latim, diz agora. Não é o único latinista que conheço que trabalhou na construção civil, note-se - enfim, o LM não era latinista. Mas era culto, mais culto infinitamente do que este senhor.)

Denfert-Rochereau. Estação terminal. Para mim é a inicial. Paris começa agora.

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