2.1.24

Diário de Bordos - Le Marin, Martinique, DOM-TOM França, 02-01-2024

Ou sou eu que ando a escrever muito ou são as canetas que não se enchem. Isto anda quase automático: trago uma caneta para não escrever no telefone e ecco!, caneta sem tinta.
Mas não era disto que queria falar. Na verdade não queria falar de nada se não desta necessidade de não falar, desta necessidade de pôr ordem na caixa de desordens, outra vez, tão pouco tempo depois de o ter feito.

Quando foi que o fiz? Em Palma? Nas primeiras semanas aqui, quando só tinha o curto prazo a tratar? (Pergunta: há quantas semanas chegaste? Resposta: duas e meia. Pergunta: não achas que devias dizer primeiros dias em vez de primeiras semanas? Resposta: acho. Pergunta: de onde vem essa tua relação toda torcida com o tempo? Resposta: torcida tens tu a cauda e bífida a língua e cheiras a enxofre que tresandas. Nem ao diabo se te pode mandar, porque já o és.)

Ou seja: isto ando tudo um caos outra vez. Comprometi-me com a casa por quatro meses, apesar das campainhas, dos alarmes e das luzes encarnadas a uivar. Agora vou ter de me desdizer, coisa que me desestabiliza mais do que estar de pé num eléctrico de Lisboa. (Pergunta: não te terás esquecido do advérbio "provavelmente"? Resposta: "sim. Fica: agora é provável que tenha de me desdizer." "E não é cedo para te preocupares com isso?" "É". "Então porque te preocupas?" "Vai para o diabo que te carregue." "Vem comigo.")

Está tudo um caos nesta pobre caixinha e não me vou dar ao trabalho de o decompor. Ela que se amanhe. "E te deixe em paz, não? Mas isso é pedir-lhe demais, bem o sabes. Bebe pão líquido, sonha com o cigarro que não tens, vai para casa beber rum que tens e não deixes a porra da caixa deitar por fora." Alguém devia um dia inventar umas comportas entre o cérebro e o resto do corpo. E compartimentos entre as diversas secções do cérebro. Racistas. Baseadas na cor: células cinzentas dum lado, as brancas do outro. As encarnadas no meio, as azuis lá para fora. ("Em português não funciona." "Diabo que te carregue.")

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Vou morrer com os meus defeitos. ("Não te preocupes. Levas as qualidades também. Sem ti de pouco servem.")

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2024 chegou, finalmente e começa bem. Pode ser que seja um bom augúrio para o que aí vem. "Ainda só tem dois dias". "Sim, mas o estúpido do 2023 durou quase cinco anos a passar."


(Cont.?)

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