Mais um daqueles dias em que o carro é que decide para onde vamos. Desta vez, resultou de uma negociação:
- Fort-de-France outra vez?
- Porque não?
- Andas há tanto tempo a dizer que queres ir dar um passeio ao norte da ilha...
- Tens razão. Vamos.
Fomos. Primeiro até Saint-Pierre, aonde almocei; depois continuámos até à extremidade norte da ilha, até ao fim da estrada, não podíamos ir mais longe; voltámos para trás, comi um gelado (outra vez em Saint-Pierre mas num sítio diferente e melhor (isto é, mais barato e mais autêntico, deve ser um "resistente"), depois meti para o interior e depois já só queria era chegar. Não que estivesse cansado da beleza - não estava e de qualquer modo perto da cidade ela desaparece, engolida pelo cimento e pelo alcatrão - mas porque andei por caminhos completamente desadequados àquele carro que já anda mal numa estrada, quanto mais em picadas como não vejo desde Moçambique. Fiz meia dúzia de fotografias (a ver o que se aproveita. A luz não estava grande coisa), dei boleia a um casal que "a tout plaqué" e agora vive de pequenos trabalhos em "quintas orgânicas" (ambas as aspas porque cito). Ela era engenheira em ambiente, ou coisa que o valha e ele especialista em imagens de síntese. Depois de ter vendido tudo comprou um burro (ele) e passeou por França com o dito durante três anos e meio. Esta foi a primeira vez na vida que apanhou um avião. Eram bastante simpáticos. Estive quase para os convidar para um copo mas foi mesmo no princípio do meu passeio e queria chegar a Saint-Pierre. Fiquei mais impressionado por ele nunca ter andado de avião (deve andar pelos cinquenta e muitos) do que por terem tudo «plaqué», mas não avancei muito nessa conversa.
Para quem perceba de árvores esta ilha deve ser um orgasmo visual.
.........
Chego a bordo, trato do jantar e dos planteurs (já está feito, é só pôr no copo...) passo as fotografias para o computador e penso que a carcaça está a recuperar bastante bem da operação. Deve ser por vingança. Apercebeu-se de que tenho andado chateado com ela e hoje resolveu mostrar-me a massa de que é feita.
Não sei. Infantilidades à parte, a verdade é que esperava muito pior antes da operação; e um inferno nos primeiros dias depois.
Hallelujah. Não serei eu quem se vai queixar. Nem da embalagem nem da médica que a operou, tão bonita. Os pessimistas nem sempre têm razão, ao contrário do que vulgarmente se pensa.
........
Meia dúzia de clientes e uma miúda que me quisesse magoar (piada privada) e seria o homem mais feliz do mundo. Assim sou só o de meio mundo.
.........
Já Janeiro se foi. Arre que era tempo! Agora já só me restam quinze dias até a médica me declarar apto para todo o serviço.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.