15.2.24

Diário de Bordos - Le Marin, Martinique, DOM-TOM França, 14 e 15-02-2024

14-02-2024

Começo este diário de hoje por sugerir aos meus leitores um disco de Sonny Rollins chamado Way Out West. É do melhor que podem ouvir de Rollins. Ou seja: é do melhor que podem ouvir.

Está feito. 

Continuo por sugerir a roulotte do Joel, quando por acaso estiverem nos Z'Abricots,  for fim-de-semana ou equiparado e não quiserem gastar muito dinheiro em comida. Tem frango, costeletas de porco, às vezes lagostim. É sempre bom, barato, simpático e fica pertíssimo da marina.

A lista de recomendações aproxima-se do fim. Já só falta o livro de Philippe Labro de que já aqui tenho falado e de que vou falar mais em pormenor mais em breve, quando o tiver terminado.

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15-02-2024
A minha médica favorita, uma jovem e bonita senhora com apelido de filósofo e olhos de deusa deu-me más notícias. Vou precisar de «soins infirmiers à domicile» por duas ou três semanas mais. Morro de vontade de cagar nos ditos cuidados, mas como a minha experiência com as mortes de vontade é relativamente má vou seguir a recomendação.

(Além de que penso que duas semanas serão mais do que suficientes.)

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É isto um dia? É, é isto um dia. Pharoah Sanders, fish fingers, vinho tinto com limonada (noutras longitudes / latitudes designado por tinto de verano), confirmação de um velho dito francês segundo o qual «à quelque chose malheur est bon», que eu traduziria por «para qualquer coisa o azar é bom», se alguém me pedisse para traduzir, enfermeira contactada e decisão tomada: se não houver enfermeira faço eu o tratamento. Ninguém trata melhor de mim do que eu (isto é uma afirmação que a história desmente facilmente, mas eu quero que a história se foda). Ah, e pedido de amarração no Marin aceite.

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Vou fritar os fish fingers, encher a maionese de pimentos picantes, encher-me de rum Trois Rivières e de cerveja Lorraine (não tenho cigarros), ler Labro, dormir e pensar na sorte que tenho (tudo isto quase ao mesmo tempo, num intervalo temporal de para aí umas duas horas no máximo). Quantos milhões de pessoas quereriam estar agora a ouvir Pharoah Sanders enquanto bebiam um tinto de verano e esperavam por fish fingers? Milhões, meus caros. Milhões.

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Entretanto o meu harém imaginário vai-se desfazendo. A competição dos homens da terra é terível. Eles têm uma vantagem sobre nós, marinheiros: estão sempre lá. 

Claro que isto é uma vantagem ilusória. Ao fim de algum tempo, transformar-se-á em «Eles têm uma desvantagem: estão sempre aqui». O problema é saber quanto tempo é «ao fim de algum tempo». Para mim, uma eternidade e meia.

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