Dia feriado aqui (e em todo o lado, imagino). Venho almoçar ao La Vague, em Saint-Pierre, que descobri recentemente.
Abençoo uma vez mais a minha intuição - para restaurantes. Fosse ela tão perspicaz para outras coisas e teria um harém ao lado de uma frota de embarcações de recreio (ou dentro da frota, não sei. Tenho de pensar nisso). Imaginem uma daquelas casas das margens do Léman mas noutro sítio, com um porto privativo, três ou quatro embarcações de vela e outras tantas de motor, um harém de senhoras seleccionadas a dedo, a olho e - igualmente importante - a ouvido (é possível que a ordem não seja esta)... Só me resta decidir aonde seria essa casa mas como é um trabalho árduo deixo-o para depois.
Por agora decido a composição da frota, penso na casa, nas ocupantes e usufruo a paz pós-prandial. Talvez seja fugaz, como paz, mas é a que hás.
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O restaurante chama-se La Vague, fica em Saint-Pierre (norte da Martinica) e qualquer sítio capaz de inspirar tão profundos pensamentos vai directamente para o respectivo céu.
A vista é linda de morrer - mar e meia dúzia de gajos fundeados - e a clientela maioritariamente franco-francesa traz-me inelutavelmente à memória uma velha piada:
- Qual é o cúmulo do pleonasmo?
- A expressão "um francês médio".
É difícil combinar o francês médio com o resto do que eu amo nesta cultura, mas a tarde não está para combinações difíceis. Está para olhar para o mar e para os gajos fundeados - o vento já rondou algumas três vezes desde que aqui cheguei -, para sonhar com mansões, frotas privadas e uma dúzia de poetisas, escritoras, músicas, artistas a acompanhar.
Ou mais seguramente a estruturar, mas isso fica para conversas sobre o tempo que passou e não sobre o que está a passar.
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O T. propôs-se fazer comigo a viagem para o Marin. Por muito que um gajo tente é impossível falhar tudo. Mais fácil me parece acertar tudo, mas isso faz parte das divagações pós-prandiais.
Fecho o dia com os madrigais do Gesualdo. Lembro-me de qualquer coisa dele que incluía Tenebras, coisa de que o homem tinha um conhecimento íntimo. Matou a mulher, o amante dela e provavelmente o filho. Daí parto para pensar que tanto gostaria de perceber mais de música, como de árvores.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.