Há uma espécie de alterações climáticas em mim: são as alterações do gosto. Têm, devo desde já dizer, o mesmo impacto na carcaça do que as outras no planeta: diminuto. Mas têm uma capacidade influenciadora semelhante. Não perco tempo a analisar-lhes as profundezas, tal como ninguém (salvo raras e honrosas excepções) analisa com profundidade as alterações climáticas. As pessoas acreditam nelas porque «toda a gente» acredita. Eu acredito nas minhas alterações de gosto porque sim, porque me apetece, porque me espantam e Deus sabe o que eu gosto de ser espantado.
Eis um exemplo: estou em «França» vai para mais de um mês e meio e ainda não bebi um único pastis. Isto é, obviamente, devido ao clima. Outro exemplo: hoje o prato do dia no Kokoarum era Bavette d'Aloyau. Pois acreditem se quiserem, ainda hesitei dois segundos entre isto e um Colombo de frango. Felizmente desta vez as alterações climáticas não levaram a melhor e optei sensatamente. A bavette d'Aloyau é um daqueles cortes que têm uma finalidade na vida: demonstrar a quem não come carne que está enganado. Não há alteração de gosto que lhe valha. Claro que se pode argumentar que o onglet e tal e coisa e a araignée mas para isso deixo vir o diabo escolher. Sobretudo acompanhado por um Carmenère que - oh santa idissincracia - é o vinho mais barato da carta. Oh beleza. Oh santidade.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.