Instala-te tranquilamente no fim do dia. Passaste-o a saltar de pedra em pedra como num riacho, não escorregaste uma única vez, a chuva e o vento tiraram-te uma das pedras de debaixo dos pés mas não te preocupaste muito. Mais muitos haverá, dias como este, pedras no riacho. Despedes-te gentilmente da luz, olhas à tua volta. A paisagem é-te familiar: habita-la há quase dois meses. Sentes que a calma esconde turbilhões, sabes-lhes o nome mas não os queres nomear. «Não se acorda o cão que dorme». Os aguaceiros - squall é não só mais bonito mas mais exacto - esperam-te. Sabes-te preparado. Mesmo quase ansioso: tudo é melhor do que estes fins de dia que se esvaem de seixo em seixo, tão redondos na aparência como escorregadios mal lhes pões um pé em cima. Os dias são esta mistura de espera, palavras, trabalho. Todos iguais. Só mudam as proporções.
Instalas-te tranquilamente numa pequena e calma torrente de palavras. Um riacho, se quiseres. No meio desse riacho há pedras, há pessoas e sonhos e ideias que o atravessam, pé ante pé. Algumas são escorregadias.
A mais feroz das prisões é não te poderes queixar.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.