17.5.24

Diário de Bordos - Cole Bay, Sint Maarten, Antilhas Holandesas, 17-05-2024

Poder-se-ia argumentar que há sítios piores para escrever disparates num blog do que o Lagoonies. Há. Cerca de três milhões, mais coisa menos coisa. Sobretudo a esta hora, em que o rhum punch custa - já aqui o disse - dois euros se for tomado aos pares ou a múltiplos. O dia cai na laguna, a luz do poente esgueira-se por baixo dos tecidos que eles pões para os clientes não ficarem encadeados, a maioria das pessoas está sentada em redor do balcão e à minha frente tenho uma sequência de mesas nas quais a luz escorrega e chega a mim com trejeitos. A música é boa - não fosse o marido da O. músico [não é] - mas demasiado variada para o meu gosto . É daquelas listas feitas para agradar a todos menos aos apreciadores de música clássica. De maneira é aqui que venho. Às vezes tenho sorte e servem-me o punch num copo grande sem gelo, doutras nem tanto e reduzem o copo à dimensão adequada (para eles. Para mim não). Nem reclamo nem peço para acrescentarem spiced rhum. Tão pouco reclamo por me trazerem a bebida mal me sento, sem ter sequer de a pedir. É uma prática que não aprecio muito, mas enfim. Paciência. 

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Gosto de navegar em tudo quanto é embarcação (de recreio. Marinha mercante, de guerra e pesca não obrigado) e dentro dessa navegação prefiro a de vela, por muita tentação que tenha de mudar definitivamente para o motor, por razões carcássicas e financeiras. Há várias razões pelas quais gosto de navegar à vela e uma delas é que a vela é um continuum no tempo. Se nós pegarmos no primeiro homem que se lembrou de pôr um pedaço de pano num mastro e o pusermos numa embarcação moderna, ao fim de meia hora ele reencontrará os movimentos, as funções de cada cabo e cada objecto e saberá orientar-se a bordo. Há uma linha que vem dos primórdios. Uma escota hoje é diferente da escota de há cinco mil anos, mas faz a mesma coisa. O mesmo se pode dizer de uma adriça, de um amantilho ou de um leme - que durante muitos anos foram remos, de resto, de onde o steerboard - estibordo de hoje.

Tudo isto para explicar porque gosto tanto de embarcações tradicionais. Não as oponho às modernas, longe disso, apesar de saber as de hoje mais rápidas e mais seguras do que as de antanho. Gosto de embarcações tradicionais porque a cada momento da história reflectem tudo o que o saber náutico da época permitia - e foi esse saber que nos trouxe ao de hoje.

Por isso fico encantado com todas as iniciativas que promovem as embarcações tradicionais. Dentro destas, as baleeiras dos Açores ocupam um lugar muito especial. São lindas, rápidas, elegantes e a caça à baleia (enfim, ao cachalote) está para o mar como as touradas para terra: a desproporção de forças é enorme. Não há actividade marítima em que a noção de «elo mais fraco» seja tão evidente como na caça ao cachalote dos Açores.

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O. apareceu no Goonies. É o seu aniversário. Ofereci-lhe as fotografias que fiz - ou melhor o uso delas, se quiser. Quem dá o que tem.

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ADENDA - Por causa do aniversário da O., hoje bebi três rhum punch. Pobre sempre, miserável nunca.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.