Regresso ao Marin e descubro que afinal adoro isto. Os lugares não existem sem nós. São o que somos, o que estamos aonde estamos.
(Claro que a diferença de preços com St. Martin é horripilante? É, excepto nos restaurantes: não há diferença. Uma refeição custa trinta ou quarenta euros, ponto, seja aqui ou lá. Mas nos supermercados sim, há uma diferença enorme. Resumindo: todos os lugares são bons, depende de nós gostarmos ou não de nós.)
ADENDA: Isto não é inteiramente verdade. No Bistro de la Mer consegui comer por vinte e cinco, mas não tenho a certeza de ter acabado com um rum, como é de norma.
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Mais um elogio do Andy, o meu vizinho inglês: «Tu trabalhas muito! Espero que o teu proprietário o reconheça.» «Veremos, Andy, veremos. Como diz o cego. (em inglês não posso dizer ceguinho...)»
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Se não tivesse testemunhas do trabalho que tenho feito, as dores musculares e nas costas tão pouco ajudariam. Ninguém as vê.
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Não chovia no Marin há três semanas. Chego, preciso de sol e tempo seco e que acontece? Adivinharam: começou a chover.
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Outro traço do carácter dos portugueses que me irrita bastante: o não-dito. O hábito de não-dizer as coisas, que algumas vezes - erradamente - confundo com cobardia. A palavra chave é algumas. Não é sempre cobardia. É só às vezes.
(Isto vindo de quem tenta dizer o menos possível quando escreve pode parecer estranho. Não é: os silêncios têm planos e conotações, como as palavras. O silêncio é uma das formas da palavra. Há-os justos e os desadequados, é tudo.)
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Pequeno intervalo para um elogio ao rum Madkaud, que não conhecia. Comprei hoje, para experimentar. Não é mau nem é bom, antes pelo contrário. Vale integralmente os quase dezanove euros que custa (aqui. Em St.-Martin compra-se Mount Gay Eclipsepelo mesmo preçoe émil vezes melhor). Diz que a distilaria foi criada pelo senhor Félicien Madkaud, descendente de escravos, em 1895. A distilaria nasceu numa habitation (o equivalente martiniquês do château francês) que pertenceu ao primeiro governador da ilha. A família do senhor tinha bons contactos, aparentemente.
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Os trabalhos que tenho vindo a fazer seriam mil vezes mais fáceis de fazer a dois. Sou, contudo, forçado a reconhecer que prefiro fazê-los sozinho. Não sei porquê, mas sei que não é por masoquismo. Talvez as negativas sejam mais fáceis de descobrir do que as positivas. São superiores em quantidade, não é?
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Hoje pensava na expressão «verdade seja dita» - foi quando pensava na mania portuguesa de não-dizer - e apercebi-me de que se fôssemos a dizer a verdade toda - ou as verdades todas - nunca mais saíriamos de onde estamos. Há uma quantidade insuspeitada de verdades espalhadas por aí, em nós, nos outros. Mais vale seleccioná-las.
E depois dizê-las, couillons.
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Sempre trabalhei muito. Não é uma qualidade. Nunca fui muito adepto de testes de inteligência (é como tentar entrar numa discoteca da moda e ser «barrado») mas aposto que se um deles integrasse esta minha incapacidade de ver trabalho por fazer me daria imediatamente uma nota negativa.
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Foi preciso insistir um bocadinho mas a marina pôs-me no mesmo pontão - quase no mesmo lugar - aonde sempre estive aqui. Ou seja: voltei para casa.
Foi preciso insistir um bocadinho mas a marina pôs-me no mesmo pontão - quase no mesmo lugar - aonde sempre estive aqui. Ou seja: voltei para casa.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.