Durante muitos anos pensei que a única razão para ter saído de Portugal era arranjar uma mulher, coisa que não conseguia de todo no nosso bem-amado país. Durante os primeiros anos no estrangeiro a situação manteve-se, o que explica que eu não tenha feito imediatamente a relação estrangeiro = mulheres. Ao fim de dois anos isso mudou radicalmente e nas dezenas de anos que se seguiram acordava todos os dias convencido da bondade da minha decisão. Voltei - «irrevogavelmente» - para Portugal em 2002 e – por inércia, pura inércia – continuei a não poder queixar-me.
Agora, por razões que não vêm ao caso, apercebo-me de que a minha incompatibilidade com a mãe-pátria é muito mais profunda, passem-me o elegante jogo de palavras. Mais profunda, freudiana e estocolmiana: quero, decididamente, viver em Portugal. Tal como quero ganhar o totómilhões, de resto. Basta-me começar a jogar. Ou arranjar um emprego a escrever artigos, falar na rádio e ser pago para aparecer na televisão. Por muito tortas que sejam as raízes, o programa é fácil. Isso das mulheres é uma nuvem que passa, um desvario, uma ilusão que ao fim de quarenta ou cinquenta anos se desvanece. Bem sei que o único país que me aceita de braços abertos (não tem pernas) é o mar, mas isso não é para esta equação chamada.
É uma equação que tem de um lado uma impossibilidade e do outro outra. Tudo o que perturbe este frágil equilíbrio deve ser excluído liminarmente.
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Uma das vantagens de se ter várias vidas é que
se pode ter várias mulheres da vida.
Bolas, não. Falta ali um possessivo: várias mulheres da minha vida.
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«Por detrás de cada viagem esconde-se uma intenção erótica.» (Agustina Bessa-Luís, de memória.)
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.