Um portaló é aquilo que nos leva ao navio ou à embarcação. Pode ser uma escada, uma prancha, uma "passerelle". É sempre um portaló. "Fazer da quilha portaló" é virar o navio de pernas para o ar. Há mais expressões com portaló, mas agora não me lembro delas. Penso neste termo, de que tanto gosto: portaló. É a porta que te faz entrar no teu mundo, porta que passas desde miúdo, desde muito antes de conheceres a palavra. Desde muito antes de saberes que este é o teu mundo.
Não são as palavras que fazem o mundo. É este que as faz e lhes dá sentido. O princípio não é o Verbo. É o que este designa.
O princípio é portaló. O resto vem depois. Os cheiros, os corredores que te pareciam labirintos, as escadas que ias subindo e que te levavam àquilo que para ti era o céu. Hoje não sobes essas escadas. Desce-las. Mas são as mesmas, o céu é o mesmo. Só mudou de tamanho, de cheiro. O teu céu agora não tem corredores nem anteparas de fórmica nem placas nas portas a dizer primeiro piloto, messe dos oficiais ou merdas do género. Mas é o mesmo: um céu que flutua, navega, requer atenção e carinho. É um céu ao qual te dás muito antes de receberes o que ele tem para te dar.
Ao qual te entregas como se céu e inferno fossem sinónimos.
São.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.